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Quarta-feira,
22/2/2012
The Second Coming of Steve Jobs, by Alan Deutschman
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 485 >>>
Antes de Walter Isaacson ― "biógrafo autorizado" ―, Michael Moritz e Alan Deutschman foram os dois principais biógrafos de Steve Jobs. Moritz escrevendo sobre a Apple até seu primeiro bilhão de dólares em faturamento; e Deutschman escrevendo sobre a saída de Jobs da Apple, a fundação da NeXT, a aquisição da Pixar, o sucesso da Pixar na bolsa, a venda da NeXT (para a Apple!) e o retorno triunfal de Jobs à empresa que fundou ao lado de Wozniak. Ainda que as informações de Moritz sejam preciosas, Deutschman é melhor escritor, e lemos The Second Coming of Steve Jobs com mais prazer que Return to the Little Kingdom. Steve Jobs tinha menos de 30 anos quando a Apple fez a maior abertura de capital da história desde a Ford. Ainda que fosse brilhante, os investidores queriam alguém mais maduro dirigindo a empresa. Jobs contratou John Sculley, então CEO da Pepsi, mas os embates de personalidade começaram a acontecer e, entre um e outro, o conselho de administração se viu forçado a escolher Sculley. Em 1985, com exatos 30 anos, Steve Jobs tinha 100 milhões de dólares em ações da Apple e seu nome já inscrito na história da computação pessoal, mas estava deprimido e pensou em viver isolado como um artista sem público. Essa fase, porém, durou pouco. Como na vingança do amante rejeitado, vendeu todas as suas ações da Apple, menos uma, e decidiu fundar uma nova empresa de computadores, a NeXT. Sua ideia era levar a revolução gráfica do Macintosh ― um projeto que desenvolveu à revelia de Sculley ― ainda mais longe. As máquinas da NeXT era um primor de design, construídas com materiais especialíssimos, mas seus preços terminaram exorbitantes ― mesmo que Jobs "focasse" em clientes institucionais, como universidades. Ao mesmo tempo ― numa galáxia distante... ―, George Lucas, o cineasta, estava se separando e, para não manter sua ex-mulher como sócia na Lucasfilm, comprou a parte dela na empresa, desfazendo-se de outros projetos paralelos, como um pequeno estúdio de animação... O embrião da Pixar: onde Steve Jobs, ao visitá-lo, teve uma sensação de déjà-vu ― como no laboratório de Palo Alto, da Xerox (o PARC), onde teve o primeiro contato com mouses e interfaces gráficas (carros-chefe do futuro Macintosh). Naquele estúdio de Lucas, gênios hippies da animação estavam antecipando o que seria a computação gráfica nos próximos anos. Mas nem Steve Jobs, como todo o seu talento de visionário, soube o que fazer com a incipiente Pixar... Adquiriu o estúdio, rebatizando-o, e investindo nele, a fim criar uma nova empresa de hardware (sua obsessão), depois uma de software, mas, como no caso da NeXT, nada parecia funcionar... Conseguiu para a NeXT, graças à sua fama de gênio precoce, o investimento de Ross Perot, que havia perdido o trem da Microsoft (e, posteriormente, investimentos também da Canon). Mas na Pixar, Steve Jobs pagava todas as contas, a ponto de tomar, de volta, as ações de seus fundadores, em troca de mais subsídios ao estúdio. Em 1989, já havia torrado 12 milhões na NeXT, 10 milhões na aquisião (mais 50 milhões na manutenção) da Pixar. Em quatro anos, havia sobrado praticamente um quarto da sua fortuna, que, se tivesse mantido em ações da Apple, poderia estar... com 450 milhões de dólares (as ações haviam valorizado, desde sua saída, mesmo sem nenhuma inovação)! No mesmo ano de 1989, contudo, sua sorte começou a mudar... Convidado para falar na universidade de Stanford, conheceu uma loira primeiro-anista de MBA que, sentada na primeira fila, não o deixava se concentrar... Era Laurene Powell, de uma família "bem de vida", ex-trainee da Goldman Sachs, que, igualmente, havia passado um semestre em Florença estudando arte. Começaram a namorar e se casaram anos depois. Também em 1989, John Lasseter, um dos "geninhos" da Pixar, ganhara nada mais nada menos que um Oscar... com um projeto paralelo, o curta de animação Tin Toy. Sempre flertando com a Disney, onde trabalhara e que admirava enormemente, Lasseter conseguiu aproximar Steve Jobs de Jeffrey Katzenberg. Jobs, mesmo à beira da falência, mantinha sua arrogância habitual e conseguiu associar a Pixar à Disney, no projeto de seu primeiro longa de animação: Toy Story. Mas as ambições de Jobs não paravam por aí. Assistindo à bem sucedida IPO da Netscape ― que convencera uma horda de investidores "pessoa física" a colocar seu dinheiro numa empresa novata (cujo lucro era potencial e não chegava nem perto de seu valor de mercado) ―, Steve Jobs quis fazer o mesmo pela Pixar. Como conta David A. Price ― num outro livro interessante ―, programou a abertura na bolsa de tal modo que ela coincidisse com a estreia de Toy Story nos cinemas. O longa de Lasseter se revelou um arrasa-quarteirão, e a IPO da Pixar, um sucesso tão estrondoso, que Steve Jobs, ex-candidato à falência, acabara de se tornar, como seu amigo, Larry Ellison, da Oracle... um bilionário. Pelo lado da NeXT, a sorte também começava a mudar. A velha Apple, que se recusara a licenciar seu software para as máquinas da IBM, perdera terreno para a Microsoft, cuja hegemonia da plataforma Windows, e de seus derivados, se consolidara. Tentando competir no mercado de pessoas jurídicas, com o Windows NT, a Apple precisava de um novo sistema operacional e... quem poderia oferê-lo? A NeXT! Quando soube, pelos funcionários da NeXT, que haviam conversações, em nível gerêncial, com a Apple, Steve Jobs exclamou: "Apple quem?". Sempre alimentara secretamente o desejo de retornar à empresa que fundara, cuidando de sua linha de produtos (tão abandonada). Gil Amelio, então CEO da Apple, negociou, com Steve Jobs, a aquisição da NeXT, mas fez uma exigência: que Jobs viesse junto no pacote. Steve Jobs, em princípio, não quis se comprometer e o máximo que fez foi assumir a função de "consultor informal". (Para a imprensa, dizia que estava mais voltado para a família...) Não demorou para que Amelio caísse e Jobs assumisse como "iCEO" ou "CEO interino". Desta vez, quem Steve Jobs salvou da falência foi a Apple, reestruturando a empresa, demitindo em massa, pedindo ajuda a Bill Gates, lançando a campanha Think Different (que, quando pronta, o fez chorar) e inaugurando o que chamou de "Digital Lifestyle" com o iMac, a primeira parceria vitoriosa com o designer Jonhatan Ive. Steve Jobs resgastou a ação da Apple, que caíra de 60 (em 1992) para 17 dólares (em 1996), batendo o histórico recorde de 1991 (68 dólares) e alcançando 73 dólares em 1999. Em dois anos, o valor da empresa que fundara com Wozniak, e que quase acabara, quintuplicava. Alan Deutschman nem chega às revoluções de iPod, iPhone e iPad... Um capítulo, a conferir, na biografia de Walter Isaacson ― que, se comprir com o prometido, conta o resto da história da Apple... até esta se tornar a empresa mais valiosa do globo ;-)
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Julio Daio Borges
Editor
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