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Quarta-feira,
10/4/2013
Amores & Arte de Amar, de Ovídio
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 490 >>>
Num mundo que supostamete caminha para a igualdade entre os sexos, o dom-juanismo está fora de moda. Mulheres querem ser conquistadas tanto quanto querem, agora, tomar a iniciativa? Quem paga a conta? Quem quer casar e quem quer ter filhos? No meio da confusão de papéis desde a revolução sexual proporcionada pela pílula, são editados, em nosso País, Amores e Arte de Amar, de Ovídio. Mais conhecido como o poeta das Metamorfoses, Ovídio era um especialista em amor, tanto que isso serviu de motivo para que fosse banido de Roma, por decreto do próprio imperator e princeps ― Augusto, quem mais? Ovídio tentou se redimir, mas nunca voltou do exílio. Se não fosse um grande poeta, estaria condenado, como se diz no Brasil, à lata de lixo da História. Mas a verdade é que quem já ouviu falar de Ovídio, geralmente, não sabe do seu desterro... São dois poemas na atual edição da Penguin Companhia. Amores foi composto durante a juventude de Ovídio. Provavelmente sob a inspiração de sua primeira esposa. Não é tão divertido, para nós, como Arte de Amar. (Este composto na maturidade.) Alguns consideram que retrata a liberação de costumes na época de Augusto. Que, aliás, tentou coibir o adultério por decreto. Seja como for, Ovídio se transformou num praeceptor amoris ou "no flagelo dos cornudos" ― na expressão de Peter Green, que escreve um prefácio magistral. Ovídio admirava quem se dedicava às artes do amor e queria elevar essa categoria a um outro status. Segundo Green: "(...) na sua escala de valores, o amante não leva uma vida menos dura que a do soldado e não merece menos que este a estima da sociedade". Ao mesmo tempo, logo na abertura, Ovídio declara suas intenções: "Quanto mais o Amor me atingiu, quanto mais na sua violência me abrasou, tanto melhor vingador hei de ser dos golpes que sofri". Arte de Amar seria, portanto, um acerto de contas? (E, sim, Ovídio sempre grafa "amor" com "a" maísculo, como se este fosse um deus da mitologia...) Um verdadeiro manual da conquista, Arte de Amar inclui um passo a passo desde a "escolha do alvo" até a aproximação, até a conquista propriamente dita, não deixando passar nada. Diz, por exemplo: "Pequenos gestos cativam corações delicados". Ou então: "O vinho põe o coração a jeito e torna-o pronto para a fogueira". Inclusive, dá alertas como: "[a paixão da mulher] é mais intensa que a nossa e possui fúria bem maior". Ou: "Uma beleza desarranjada é o que fica bem aos homens". Ovídio é, no dizer de hoje, um otimista. Não acredita que haja conquista impossível. Sobre as mulheres, em geral, afirma: "Até mesmo aquela que podes supor que não quer... quer". Ou, ainda: "Enquanto resiste, porém, o que ela quer é ser vencida". Não significa, contudo, que seja fácil a missão do "amante" (apesar da suave recompensa): "A noite e o Inverno e jornadas sem fim e dores terríveis e toda a sorte de padecimentos, eis o que nos espera nos campos da doçura". Ovído, apesar de parecer, não é nada machista e dedica uma parte especial de Arte de Amar a aconselhar... as mulheres. Diz, por exemplo, sobre a passagem do tempo: "Com passo rápido se escapa a idade, e não é tão boa a que vem depois, quão boa foi a que veio antes". A seção "as artes do prazer", na página 363, é quase impublicável ― e merece, ao menos, uma discreta folheada na livraria. O pudor é do próprio Ovídio: "Tenho vergonha de ir mais além nos conselhos", anuncia. Mas, para o deleite de seus leitores, prossegue... Conquanto, em nossa época, homens e mulheres, aparentemente, não saibam mais seu lugar, o amor, apesar dos pesares, continua no ar... E Ovídio ainda tem muito o que nos ensinar.
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Julio Daio Borges
Editor
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