DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
6/5/2013
Porta dos Fundos
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 491 >>>
Os vídeos, na internet, têm uma história. No princípio, era o verbo. E, graças à Web, os links. Graças ao Mosaic ― o primeiro "navegador", de Marc Andreessen ―, chegaram as imagens. Depois do advento da Netscape ― do mesmo Andreessen, em sociedade com Jim Clark ―, a internet se popularizou como nunca. E Bill Gates entrou na guerra, com o Internet Explorer. Embuti-lo no Windows lhe custou uma condenação, na virada do século. Mas, mesmo assim, a Netscape nunca mais foi a mesma. Nesse meio tempo, surgiram players como a Amazon, e portais, como o Yahoo!. No Brasil, quando o Terra entrou na briga com o UOL ― turbinado pela Telefônica ―, alguns pensaram que a internet seria a nova televisão. E dá-lhe montar estúdios. E dá-lhe contratar Lillian Witte Fibe. Em vão. Ainda reinava a conexão discada. (Tirem as crianças da sala.) Os vídeos eram produzidos, mas jamais carregavam na tela do usuário final. 1 (um) megabyte era "uma loucura" para transmitir via linhas telefônicas. Surgiu a "banda larga" no horizonte. Em meados dos anos 2000, nascia o YouTube. Originalmente uma inspiração no Hot or Not, que "ranqueava" fotos. O YouTube queria "ranquear" vídeos que os usuários "postavam". Ledo engano. Os rankings ficaram para trás. Graças à sua tecnologia, em flash, o YouTube se converteu na plataforma para o vídeo na Web. Começou um nova era. O YouTube se popularizou de tal maneira que: ou era adquirido por um dos gigantes da internet; ou quebrava ― tamanhos eram os custos de "hospedagem" e streaming ("transmissão"). O Google, depois de desistir do próprio Google Vídeo, adquiriu o YouTube. E ele deu prejuízos milionários durante anos. Até dar lucro. Para o Google? Talvez. Mas, certamente, para um novo tipo de arrivista. Não era, como nos primórdios da internet, o detentor de uma homepage. Também não era, ao longo dos anos 2000, o blogueiro ou blogger. (Nem o detentor de um fotolog.) Era o videomaker ― apenas para utilizar uma expressão fora deste contexto ―, que usava a hegemonia do audiovisual para se lançar... só que na Web. No Brasil, como sempre, demorou mais do que nos EUA. Só agora, na década dos 2010, temos gente como Felipe Neto. Famoso por criticar a série Crepúsculo e por merecer a ira de uma adolescente do Sul do Brasil. (Talvez ela fosse até melhor do que ele.) Enfim, todo este prelúdio para falar trupe do Porta dos Fundos. Na clareira aberta por Felipe Neto ― e quejandos ―, um grupo talentoso de comediantes se estabeleceu, no YouTube ".com.br", com episódios semanais, para milhares de assinantes. OK, poderíamos ainda falar dos comediantes "stand-up". Dos Danilos Gentilis da vida, dos Rafinhas Bastos, dos CQCs, das Terças Insanas, da MTV e dos Marcelos Adnets. Mas isso tudo mundo já sabe. A novidade, digamos assim, do Porta dos Fundos é, justamente, não recorrer à fórmula gasta do "stand-up comedy". Praticamente, não há monólogos. São cenas ou, melhor, situações, com roteiro muito bem elaborado, produção cuidadosa, diálogos bem encenados e atuação profissional. Podemos arriscar que, além de todo este "pano de fundo" da internet, há uma inspiração que vai desde os esquetes, clássicos, do grupo Monty Python até a melhor fase da TV Pirata (Casseta & Planeta é, igualmente, uma fórmula desgastada). Com tanta inteligência e originalidade, aliás, seria uma pena se a trupe do Porta dos Fundos se rendesse ao apelo fácil da TV comercial. Queiramos que não. Dizem que as receitas do YouTube, para o tipo de audiência que eles alcançam, é satisfatória. Esperamos que seja mesmo. Caso contrário, vale assistir ao Porta dos Fundos enquanto eles ainda não se renderam à MTV ou à TV Bandeirantes ou à própria TV Globo. Nossa sorte, no fim das contas, é que o YouTube não foi adquirido pelas Organizações Globo.
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Julio Daio Borges
Editor
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