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Segunda-feira,
13/5/2013
Diálogos de Platão, pela editora da Universidade Federal do Pará
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 491 >>>
É incomensurável a importância dos Diálogos de Platão. Primeiro, por serem o retrato mais fiel de Sócrates ― segundo o Oráculo de Delfos, o "mais sábio dos homens". O Sócrates "histórico" ― que é, segundo Otto Maria Carpeaux, "o protótipo do Cristo" ― foi-nos legado por Platão. Também por Xenofonte, em Memoráveis, e também por Aristófanes, na sua comédia As Nuvens ― mas, sobretudo, por Platão. Em segundo lugar, a importância dos Diálogos se reflete na linha divisória que classifica os pensadores gregos antes de Sócrates, justamente, como "Pré-Socráticos". Assim como o surgimento da escrita delimitou a Pré-História, Sócrates delimitou a História da Filosofia. Contrapondo-se à visão mitológica do mundo, da vida e da mesma História, os "filósofos" ― ou seja, os "amigos da sabedoria" (φιλόσοφος) ―, fundaram uma nova forma de conhecimento, uma nova ética e uma nova sociedade, pautada pela razão. O "lógos", em grego (λόγος). Em terceiro lugar, porque os Diálogos não são "apenas" a melhor representação de Sócrates, mas também porque, atrás do grande dramaturgo que é Platão, está originalmente o método socrático e, posteriormente, a filosofia do próprio Platão. Ou seja: além da sua qualidade histórica e literária, digamos assim, os Diálogos são o exemplo mais fiel da ferramenta desenvolvida pelo próprio Sócrates, em suas investigações filosóficas ― e o registro das conclusões da maturidade do pensador Platão. A lista de "porquês", na realidade, se estende indefinidamente, pelos mais de dois mil anos que os Diálogos atravessaram, fascinando gerações. Logo, um tradução em português, direto do grego, é, como dizem, mais que um acontecimento, é um ato de civilização. Pois esse feito teve lugar, entre nós, pelas mãos de Carlos Alberto Nunes. E, agora, a editora da Universidade Federal do Pará relança todos os Diálogos de Platão em edição bilíngue, com capa dura, sob a coordenação de Benedito Nunes e Victor Sales Pinheiro. Cada volume acompanha um comentário, do próprio Carlos Alberto Nunes, ou dos coordenadores. Os primeiros são: O Banquete, ou "Do Amor"; Fédon, ou "Da Alma"; e Fedro, ou "Do Belo". O Banquete é um clássico, onde são proferidos discursos sobre o amor, pelos vários participantes. Entre eles, o general Alcibíades, um dos grandes da Antiguidade, "biografado" por Plutarco ― e amante de Sócrates. O mestre de Platão, é claro, fica com a conclusão do diálogo. Já o Fédon, também um clássico, narra os momentos finais de Sócrates. Como quase todo mundo sabe, o mestre foi acusado, julgado e condenado à morte em Atenas ― por não respeitar os deuses (até "introduzindo deuses novos") e por corromper os jovens ― e, ao contrário do que se poderia imaginar, aceitou a sentença e cumpriu a pena com uma serenidade imperturbável. Nos seus últimos instantes, Sócrates se dispõe, justamente, a provar a "imortalidade da alma" (um tema caríssimo à filosofia), a descrever a "vida após a morte" e a reafirmar sua postura inabalável ante a comutação da sentença. Enquanto seus discípulos choravam, diante do inescapável fim, Sócrates ralhava com eles, dizendo que já havia colocado as "mulheres" e as "crianças" para fora, e que eles tinham de ser "homens" (!). Recebendo o veneno de um carcereiro, que igualmente chorava, Sócrates ingeriu-o sem pestanejar. E foi se deitar à espera da morte, que, como um sensação de um "frio", subia dos pés à cabeça em questão de minutos. Suas últimas palavras foram: "Críton, devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar essa dívida!". Em seguida, estremeceu... Seu olhar ficou parado... "Críton fechou-lhe os olhos e a boca", descreve Platão. Completando: "Tal foi o fim do nosso amigo(...) do homem, podemos afirmá-lo, que, entre todos os que nos foi dado conhecer, era o melhor e também o mais sábio e o mais justo". Ler os Diálogos de Platão é uma experiência de vida.
>>> Diálogos: O Banquete, Fédon e Fedro
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Julio Daio Borges
Editor
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