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Segunda-feira,
20/5/2013
Eu Maior, o filme de Fernando, Paulo e Marco Schultz e Andre Melman
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 491 >>>
No final do século passado, falava-se muito na Era de Aquário. Depois dos hippies e do orientalismo, na segunda metade do século XX, entrou na moda um certo "esoterismo" que, às vezes, flertava com o charlatanismo (convenhamos). Muitas religiões tradicionais, pelo seu lado, degeneraram em fundamentalismo, que, após o 11 de Setembro, tornou-se inimigo de Estado. O ateísmo, como militância, preencheu novos espaços, apoiado, sobretudo, na credibilidade da ciência, que, desde o Iluminismo, tantos progressos nos legou. E, no Brasil, a ascensão dos evangélicos, e da "nova" direita medievalista, não tem nos ajudado... O fato é que se trocou a palavra religião pela palavra "espiritualidade". Ser "religioso" pode soar pejorativo hoje; ser "espiritualizado", não. Freud dizia que o homem não pode viver sem religião. Talvez estivesse falando de espiritualidade. A verdade é que os questionamentos, no homem, não param. Independente das crises das instituições, iremos, em algum momento, nos perguntar de onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui e pelo que desejamos viver, afinal. Nesse contexto se insere o documentário Eu Maior, de Fernando, Paulo e Marco Schultz e Andre Melman. Não é um filme religioso, mas é pleno em espiritualidade (no melhor sentido da palavra). Seu approach "ecumênico" é um de seus maiores trunfos. Porque, em Eu Maior, estão tanto homens de ciência, como Marcelo Gleiser e Ari Raynsford, quanto religiosos, como Leonardo Boff e a Monja Cohen. Estão, igualmente, um psicanalista, como Flávio Gikovate, um médico, como Paulo de Tarso Lima, um músico, como Benjamim Taubkin, e uma atriz, como Letícia Sabatella. Ainda, best-sellers como Rubem Alves e Mário Sérgio Cortella, uma líder comunitária, como Vanete Almeida, e até um palhaço, como Márcio Libar. Para terminar, uma política, como Marina Silva, um surfista, como Carlos Burle, e um transexual, como Greta Silveira. (A lista completa pode ser encontrada aqui.) O grande mérito dos realizadores de Eu Maior foi costurar depoimentos de personalidades tão díspares, talvez antagônicas, num todo que "flui" junto com a beleza das imagens. Não existe pregação, ninguém deseja "convencer" o espectador de suas crenças. Ao mesmo tempo, uma essência ― humana, demasiado humana? ― permeia o documentário. Mais importantes que as respostas são as perguntas. E mais importante que o destino é a jornada... (Soa familiar?) Outro mérito de Eu Maior é, muito delicadamente, funcionar como um "contraponto" aos valores que norteiam o mundo atual. Durante a projeção nos esquecemos do materialismo, do universo das aparências, da sociedade de consumo... Como se uma outra humanidade fosse possível... Mas, de novo: sem ideologias... E, com todo o direito, alguém pode se perguntar: "O que desejam os realizadores, afinal de contas?". Aparentemente, não é dinheiro, não é fama, nem é glória. Os mais cínicos vão dizer que, depois do sucesso de Eu Maior, isso mudará... Será? O filme foi exibido em premières para patrocinadores (inúmeras "pessoas físicas") e convidados. Acontece que Eu Maior provoca uma espécie de "efeito viral": um desejo de querer compartilhar o documentário com outras pessoas sensíveis, que conhecemos, e que podem gostar. Deve seguir, agora, a rota dos festivais de cinema. E tem tudo para arrematar desde "ursos" até "leões". Vencida essa etapa, estreia nas salas do Brasil. E, finalmente, ganha a internet. Depoimentos já podem ser assistidos no YouTube (para quem duvida). Se a distribuição e o marketing não falharem, Eu Maior servirá de inspiração, inclusive, para novos documentários no mesmo formato. E last but not least: o que seria o "Eu Maior" do título? Deus? O inconsciente coletivo? A resposta, obviamente, não está no documentário. Mas gostaríamos de acreditar que é a própria humanidade. Tanto a nossa "humanidade", por vezes em segundo plano, quanto a humanidade inteira, a quem o filme se destina... Que Eu Maior realize seus objetivos.
>>> Eu Maior
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Julio Daio Borges
Editor
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