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Segunda-feira,
21/10/2013
Homenagem a Fred Leal, do podcast É Batata
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 495 >>>
A história da internet se perde na frustração dos links quebrados. Fred Leal morreu e, por ser um herói da internet brasileira, não conseguimos resumir sua importância. Quanta energia em blogs que já não existem mais, em argumentos ou discussões que envelheceramm rápido, em formatos que desapareceram, ou que não são mais compatíveis, ou que ninguém consegue recuperar. Já disseram que a internet foi, em dado momento, uma continuação da utopia hippie dos anos 60. Quando tanta gente trabalhou por simples amor à causa, esperando uma queda da "velha ordem", mas que não veio, e as contas seguiram se acumulando. Quantos existencialistas dedicaram madrugadas inteiras a colocar um "super conteúdo" no ar, mesmo sabendo que sua chance de "monetização" (como se falava) era zero ou quase zero? A verdade é que encerramos a década dos 2000 sem decifrar o enigma da desvalorização do conteúdo, se ela vai continuar para sempre ou se algum milagre vai reabilitá-lo. Fred Leal foi capaz de inaugurar um formato no Brasil, o do podcast, mas seu pioneirismo nunca lhe proporcionou o devido retorno material, se é que lhe proporcionou o mínimo reconhecimento. Fama? Talvez. Gloria? Depende. Fred Leal era capaz de se jogar na esbórnia da Flip e de trazer de lá algum conteúdo relevante. Era capaz de encarar o ocaso do jornalismo, no extinto caderno "Link", produzindo matérias em série, em troca de uma remuneração apenas simbólica. Se alguém construísse um panteão dos heróis da internet brasileira, como iríamos homenageá-los? Como descreveríamos sua importância para as gerações futuras? Dizendo que, sem eles, não haveria Google, Wikipedia, YouTube, Twitter? E quando esses formatos passassem, o que diríamos deles? Os velhos formatos ainda são os que permanecem (para além da internet)? Quais formatos (exatamente)? Fred Leal morreu no meio da balbúrdia dos suportes que se consomem uns aos outros, e sua arte, sua produção, seu conteúdo pode ter se perdido nessa transição. Quem vai reunir o que ele nos legou? Quem vai contextualizar? Quem vai "formatar" para a posteridade? Quem tem esse tempo? Ninguém. Estamos todos sobrevivendo. Ou cuidando da própria sobrevivência. E qual editor, de conteúdo, se arriscaria a apostar no legado de um pioneiro, quando pode apostar numa série para teens que, com sorte, atingirá milhares, ou milhões? O Brasil produziu blogueiros que se estabeleceram como nos EUA, ou nos países anglófonos? Se sim, quem são eles? Podcasters, então, nem se fala. Se nem de Adam Curry, o pioneiro inconteste nos Estados Unidos, temos notícia... Agora a moda é ser vlogger. Felipe Neto, Porta dos Fundos, essas coisas. Fred Leal conseguiria se converter em vlogger? Se conseguisse, que tipo de vlogger ele seria? Ao fim e ao cabo, o formato que prevalece, na internet, é o mesmo da televisão? O do vídeo ― para uma audiência de milhões? Por mais que Felipe Neto tenha tido os seus "15 minutos" com a teenager sulista em fúria, e por mais que a trupe da Fábio Porchat seja uma renovação no humor em vídeo, será que é o máximo que podemos almejar em termos de "conteúdo"? Todo o resto, que não faz rir ao vulgo, é muito "pretensioso"? Estamos condenados à velha estética dos programas de auditório, onde o máximo de gravidade é um discurso "a favor dos protestos", de Fausto Silva? Esses são os nossos grandes comunicadores? Você queria ser um deles? Será que, como Fred Leal, não estamos nos desperdiçando em microposts? Em "curtidas", em "compartilhamentos" e em "comentários"? Em fotos. Até em vídeos. Existe "arte" nisso tudo? Quem está olhando? Haverá a possibilidade de uma "curadoria" dessas coisas? No futuro? Que futuro? Estaremos vivos até lá? Quem ganharia com isso? Nossa descendência? Quem teria interesse? Alguém pagaria por isso? A discussão sobre conteúdo vale a pena ou ela só gera mais conteúdo? Fred Leal talvez não possa ser salvo do rolo compressor das "atualizações em tempo real". Mas será que o seu legado não merecia a nossa reflexão? Não pelo conteúdo, em si, mas pelo que estamos fazendo, ou pelo que queremos fazer, com o nosso próprio conteúdo? Você já pensou nisso?
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Julio Daio Borges
Editor
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