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Segunda-feira,
6/1/2014
Paulo Francis - Polemista Profissional, por Paulo Eduardo Nogueira
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 496 >>>
Durante quase toda a década de 2000, o monopólio sobre Paulo Francis coube a Daniel Piza. Por ter organizado o último livro de Francis em vida, Waaal (1996), e por haver escrito uma das principais biografias, Paulo Francis ― Brasil na Cabeça (2004), Piza monopolizou as análises e interpretações sobre Paulo Francis na posteridade. Como nada é para sempre, porém, o próprio Daniel saiu de cena, no final de 2011, e Francis se tornou um campo aberto a novas interpretações. Além do documentário de Nelson Hoineff (com roteiro de Piza), e além da coletânea da Publifolha (com organização de Nelson de Sá e posfácio de Pondé), Paulo Eduardo Nogueira, editor de internacional do Estadão, publicou sua versão da história: Paulo Francis ― Polemista Profissional. Trata-se de um livro de 2010, pela Imprensa Oficial, que não recebeu a devida atenção. A infância e a juventude de Francis são, geralmente, cobertas pelos seus próprios livros de memórias, O afeto que se encerra (1980) e 1964 ― O que vi e vivi (1994). São as fontes em que Daniel Piza bebe e Paulo Eduardo Nogueira, também. O jornalista, antes do golpe e da mudança para Nova York, se espraia em registros nos veículos em que trabalhou, desde o Diário Carioca até a Última Hora, até OPasquim, passando pelas revistas Senhor e Diners. Já a personalidade consagrada pela televisão, além do registro audiovisual no Jornal da Globo e no Manhattan Connection, se revela no Diário da Corte, talvez o auge da produção escrita de Paulo Francis. O que há de novo na biografia de Nogueira, então? Paulo Francis ― Polemista Profissional refaz toda a trajetória de Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, como não poderia deixar de ser, mas joga luz no salto de popularidade, do articulista de jornal para o comentarista da TV Globo ― que, não por acaso, coincide com a guinada da "esquerda" para a "direita", sempre evocada. Paulo Eduardo Nogueira não apenas sugere que o sucesso mudou a relação de Francis com o capitalismo como, bibliograficamente, aponta as fontes, que serviram de base não só para Francis, mas para uma geração de intelectuais, que se desiludiu com a esquerda, ao mesmo tempo em que flertou com o "conservadorismo", nos EUA. Entre as indicações de leitura de Nogueira, estão, por exemplo, A nova classe (1958), de Milovan Djilas, e The neoconservatives (1980), de Peter Steinfels. Uma citação pinçada do biografado, em uma entrevista à Veja em 1994, é iluminadora: "Não sou de direita nada. Acho apenas que o governo serve para garantir cumprimento de contratos, construir obras de infraestrutura e manter a lei e a ordem. A economia deve ser entregue à iniciativa privada". Lembrando que até uma candidatura, como a de Lula em 2002, que se acreditava "de ruptura", garantiu a vitória nas eleições quando assinou a famosa "Carta aos Brasileiros", em que, mais do que qualquer coisa, garantia o cumprimento de contratos e compromissos do País, interna e externamente. Assim como sua imagem política, a vida e a obra de Paulo Francis são mais complicadas do que as simplificações perpetradas desde sua morte. Felizmente, contudo, sua produção continua revisitada, e repensada, mais de uma década e meia de seu desaparecimento.
>>> Paulo Francis ― Polemista Profissional
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Julio Daio Borges
Editor
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