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Segunda-feira,
7/4/2014
Em Busca da Terra do Nunca... e Johnny Depp
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 499 >>>
É sintomático que Em Busca da Terra do Nunca, que completa dez anos em 2014, tenha ficado como um ponto de inflexão na carreira de Johnny Depp, que tenta passar de um ator juvenil, ou até infantil, para um artista adulto, ou sério. Para quem não sabe, Finding Neverland, o título em inglês, conta a história do autor de Peter Pan. J. M. Barrie é um fracasso de bilheteria, como dramaturgo, até descobrir uma família pela qual se apaixona. Casado, tem admiração pela viúva dessa família (no filme, Kate Winslet), o que prejudica seu próprio casamento, mas são as crianças que o inspiram a criar um personagem que nunca envelhece. No longa, aquele homem alheado, que passava as tardes com filhos que não eram seus, em brincadeiras aparentemente sem futuro, revela-se um artista sensível, maduro, culminando, como não poderia deixar de ser, com um sucesso de bilheteria, e com respeito social. Seu casamento termina, a viúva igualmente falece, mas, além da consagração de Peter Pan, o protagonista acaba se realizando, ao dividir a tutela das crianças com sua avó materna. Depp que, acredite ou não, fez sua estreia em A Hora do Pesadelo (1984), teve uma passagem por Platoon (1986), mas acabou se consagrando com Edward Mãos de Tesoura (1990), que se não for um filme infantil, está muito perto de ser. Foi adolescente em Gilbert Grape (1993) e tentou ser sério em Ed Wood (1994), mas não foi dessa vez. Abriu alas para Marlon Brando em Don Juan DeMarco (1994) e quis ser sério, novamente, em Donnie Brasco (1997). Começou a amadurecer, talvez, em Medo e Delírio (1998), onde descobriu Hunter S. Thompson. Mas rendeu-se, outra vez, ao infantojuvenil em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999), ao juvenil em Chocolate (2000) e ao declaradamente infantil em Piratas do Caribe (2003), que se converteu numa franquia. Se os anos 2000, portanto, seguiriam dominados pelos Piratas, em 2006, 2007 e 2011, 2004 acenou com Terra do Nunca; 2010, com Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton; e 2011, com Diário de um Jornalista Bêbado (Hunter S. Thompson, de novo, em produção sua). A ponto de o personagem de Depp em Cavaleiro Solitário, um blockbuster da Disney, ser muito menos "tonto" que seu nome indica. Ou seja: a meia-idade fez bem a Johnny Depp. Já 2016 acena com Through the Looking Glass, a continuação de Alice (infelizmente sem Tim Burton). Mas 2016 também acena, como não poderia deixar de ser, com outro Piratas do Caribe, o quinto. Qual Johnny Depp vai prevalecer? Se tudo falhar, ainda lhe resta a música. Depp, para quem não acredita, já tocou guitarra numa banda com Gibby Haynes, o cantor dos Butthole Surfers, Flea, o baixista dos Red Hot Chilli Peppers, e Steve Jones, sim, o lendário guitarrista dos Sex Pistols. E se mesmo a música não lhe trouxer alívio, há, ainda, seu lado restaurateur: Man Ray, que dividiu com Sean Penn e John Malkovich, funcionou como bar e restaurante em Paris, no endereço de um antigo cinema. A verdade é que Depp, além de tudo isso, tem seu lado pai: agradeceu ao hospital que salvou sua filha da morte com uma doação milionária e com uma tarde fantasiado de Jack Sparrow, contando histórias para crianças doentes. Quem sabe, a "chave" para a maturidade de Depp esteja em sua paternidade ― que, por sua vez, o joga, de volta, nos braços das crianças e jovens nos filmes. Enfim, Johnny Depp, maduro ou "imaturo", permanece um enigma.
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Julio Daio Borges
Editor
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