DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
19/5/2014
Salinger, de David Shields e Shane Salerno
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 500 >>>
Por que ler uma biografia de J.D. Salinger? Porque ele escreveu O Apanhador no Campo de Centeio, provavelmente o romance mais influente dos anos 50, em língua inglesa, que levou a rebeldia juvenil ao mainstream, antecipando os beatniks, os hippies e, obviamente, o rock'n'roll, e o pop. O "poder jovem", como se dizia nos anos 60, seria impensável sem Holden Caulfield. Do mesmo jeito, o protagonismo dos jovens brasileiros na época que se convencionou chamar de A Era dos Festivais, até a explosão da "cultura jovem", nos anos 80 (tão bem documentada por Ricardo Alexandre). Até a internet. Salinger cristalizou uma postura anti-establishment que consequentemente inspirou hackers, desde um Jobs, que foi para a Índia e combatia a IBM, o Grande Irmão, até um Zuckerberg, o antisocial fundador da maior rede social do mundo (não sem brigar antes com a namorada e "dar um chapéu" em colegas de Harvard). Holden Caulfield está entre nós; dentro de cada um de nós. E você nem precisa ter lido o livro... Salinger, contudo, pagou um preço alto por isso. O sucesso e a popularidade da obra o assombraram até a morte. Passou décadas tentando se isolar em Cornish, no estado de New Hampshire, ambicionando "levar uma vida normal", mas o máximo que conseguiu foi se converter num dos reclusos mais famosos do mundo, avesso a aparições públicas, levando o controle da sua imagem, e da sua obra, ao limite da paranoia. Shields e Salerno, os autores da biografia, acreditam que a chave para o comportamento de Salinger esteja no transtorno de estresse pós-traumático, em consequência de sua participação na Segunda Guerra Mundial. Salinger tomou parte do famoso desembarque no Dia D, afastou corpos que flutuavam, desviou de muitos outros na praia... Combateu na floresta de Hürtgen, na Alemanha, uma das batalhas mais sangrentas de toda a História. E foi um dos primeiros a ter contato com o horror dos campos de concentração. Esteve em Dachau. Shields e Salerno acreditam que Holden Caufield foi a razão de viver de Salinger nessa época, pois o romance foi escrito no front. Salinger exorcizou seus demônios criando um mostro adolescente, que enfeitiçou multidões de leitores ao longo do século XX. Manteve a serenidade até publicar O Apanhador, mais uma coletânea de histórias da New Yorker, Fanny & Zoey, a "Culmeeira" com o "Diário de Seymour", mais um último conto mal compreendido na mesma New Yorker, "Hapworth 16, 1924", e, enfim, "despirocou". A consagração e as vendas, avassaladoras, tiveram sequência. E Salinger, milionário e hermeticamente fechado, perdeu o senso de realidade. Casou três vezes, teve casos e mais casos com jovens garotas entre a adolescência e a idade adulta ― e escreveu obsessivamente. Mais de 12 horas por dia ― relatos afirmam ―, durante décadas. Shields e Salerno revelam um cronograma de publicação, deixado em seu testamento, que começa em 2015 e que vai até 2020. O que vem por aí? Mais Holden Caulfield? É possível. Mas é possível, também, que toda a espera seja em vão. Gênio ou louco? O que o futuro reserva para J.D. Salinger?
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Julio Daio Borges
Editor
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