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Segunda-feira,
23/6/2014
Trágico e Cômico, o livro, de Diogo Salles
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 501 >>>
Diogo Salles é um sobrevivente da última encarnação do Jornal da Tarde. Viveu na pele os últimos dias do jornal em 2012, quando a direção negava o fim, enquanto o "telemarketing de assinaturas" afirmava, e todo o resto da imprensa confirmava. A redação, tal qual marido traído, foi a última a saber (ou a receber a confirmação oficial). A morte talvez mais significativa de um jornal no Brasil mereceu, de sua direção, um eufemismo digno dos idiotas da objetividade: "revisão de portfólio". Trágico e Cômico era o nome do blog que Diogo Salles mantinha no portal do Estadão. O blog segue no ar, mas, como a homepage do Estadão não quer nem ouvir falar de Jornal da Tarde, Diogo Salles transformou o Trágico e Cômico numa grande reflexão, um livro, pela Primavera Editorial. Com prefácio de Baptistão, colega de Diogo de redação, a coletânea reúne 5 anos de charges do Jornal da Tarde. O subtítulo foi o gancho inicial: "Os protestos em charges". Um ano depois das chamadas Jornadas de Junho, Diogo Salles aproveitou para dar seus "20 centavos de contribuição" ao debate. Trágico e Cômico, agora entre capas, parte das bases de nossa "discussão" política hoje, a polarização entre PT e PSDB, analisa o que chama de "múmias" da nossa política (adivinhe quem são) e desemboca, pedagogicamente, nos "protestos" e nas "manifestações". Diogo radiografa os partidos, disseca as suas "personalidades" e revisita o que Daniel Piza denominou "mitos paralisantes" (por exemplo, os "salvadores da pátria"). Desde o Mensalão até o PSD, cada cacique merece, pelo menos, uma charge inspirada. Diogo não esqueceu a militância eletrônica de esquerda, que usa táticas de guerrilha nas redes sociais, nem a chamada "nova direita", que recebeu uma das ilustrações mais hilariantes do volume. Nela, Reinaldo Azevedo, com dedo em riste, faz uso de seu megafone verbal; Rodrigo Constantino, verticalmente prejudicado na charge, arregaça as mangas, como um novato na máfia; enquanto Olavo de Carvalho, macaco velho, busca guarida, ao mesmo tempo incitando os ânimos e fumando uma cigarrilha diáfana. Mas nem só de política vivem as páginas de Trágico e Cômico, Diogo Salles entra no espinhoso tema da Copa 2014 e presta sua homenagem aos "coronéis da MPB" (aqueles, do Procure Saber). O livro se encerra com o país do "jeitinho brasileiro", a filosofia que impregna nossa sociedade, e abre espaço até para uma nova personagem: Ganâncio, o candidato (que nos lembra o Urbanóide ― aliás, merecedor de uma coletânea à parte). O que vai acontecer durante a Copa da Fifa? Até onde vão os manifestantes em 2014? Os protestos vão se refletir, finalmente, nas urnas? 2015 será de continuidade ou de rompimento? São questões para os próximos meses e anos. Num cenário de grande instabilidade, não há respostas óbvias. Trágico e Cômico, em papel, não poderia ter chegado em melhor hora.
>>> Trágico e Cômico
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Julio Daio Borges
Editor
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