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Segunda-feira,
7/7/2014
Reflexões ou Sentenças e Máximas Morais, de La Rochefoucauld
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 502 >>>
La Rochefoucauld está em qualquer antologia de frases que se preze. Finalmente, a coleção "Grandes Ideias", da Penguin Companhia, resolveu lhe dedicar um volume inteiro. E ficamos sabendo quem é o sujeito. Moralista, no bom sentido, La Rochefoucauld faz um contraponto a Aristóteles, famoso por declarar que "a virtude está no meio" (entre dois vícios). Diz La Rochefoucauld, logo na abertura do volume: "Nossas virtudes são apenas, no mais das vezes, vícios disfarçados". Aristóteles ainda tinha esperança; La Rochefoucauld, nem tanto. Outro tema caro a La Rochefoucauld, e nem tanto a Aristóteles, é o da paixão, tema igualmente caro aos romanos. Diz o francês: "A paixão faz muitas vezes do homem mais hábil um louco, e hábeis os mais tolos". É por isso que os romanos não se apaixonavam nunca. Os gregos, também, achavam abominável. No Banquete, Platão sugere o amor entre "amigos" é mais respeitoso e saudável que "uma paixão violenta". De novo, La Rochefoucauld: "As paixões são os únicos oradores que sempre convencem". Apesar de pensador, La Rochefoucauld desconfiava da filosofia: "A filosofia facilmente vence os males passados e futuros. Mas os males presentes a vencem". Desconfiava, também, do heroísmo: "(...)exceto por uma grande vaidade, os heróis são como os outros homens". Sobre a "força de vontade", ou a "vontade política", como dizem nossos governantes, La Rochefoucauld observaria: "Temos mais força que vontade; e muitas vezes é para nos desculparmos conosco que imaginamos serem as coisas impossíveis". La Rochefoucauld era, sobretudo, um cético ou, em filosofia, até um cínico: "Nunca somos tão felizes nem tão infelizes quanto imaginamos". Sobre a sinceridade: "A sinceridade é uma abertura do coração. Encontramo-la em muito poucos; e a que vemos habitualmente não passa de uma fina dissimulação para atrair a confiança dos outros". Ser verdadeiro poderia ser perigoso, segundo ele: "A intenção de jamais enganar expõe-nos a ser frequentemente enganados". E La Rochefoucauld previu até o transtorno bipolar contemporâneo: "Às vezes somos tão diferentes de nós mesmos quanto dos outros". Desconfiava mesmo dos modestos: "Recusar elogios é desejar ser elogiado duas vezes". E, dos perfeccionistas: "Não basta ter grandes qualidades, é preciso administrá-las". La Rochefoucauld vivia numa sociedade de aparências, como a nossa: "O mundo recompensa mais vezes as aparências do mérito que o próprio mérito". E retomando Aristóteles, de certa forma: "Os vícios entram na composição das virtudes como os venenos entram na composição dos remédios". Para ele, grandeza era saber reconhecer: "Só aos grandes homens cabe ter grandes defeitos". La Rochefoucauld, definitivamente, não tinha muita fé na natureza humana: "Esquecemos facilmente nossos erros quando só nós os conhecemos". O ser humano é, antes de tudo, um fraco? "Quando os vícios nos abandonam, vangloriamo-nos crendo que fomos nós que os abandonamos". Henry Ford concluiu que "qualidade" é "fazer bem feito quando ninguém está olhando". Já La Rochefoucauld o antecipou: "A perfeita coragem é fazer sem testemunhas o que seríamos capazes de fazer diante de todos". Sem esquecer de sua máxima mais conhecida: "A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude". La Rochefoucauld via o amor como uma auto-ilusão: "O prazer do amor é amar, e somos mais felizes pela paixão que temos do que pela que provocamos". E, mais uma vez, sobre a paixão: "A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas e ascende o fogo". Paixão era sua especialidade: "Estamos longe de conhecer tudo o que nossas paixões nos levam a fazer". Como um mestre zen, fecha assim o volume: "Quando não encontramos repouso em nós mesmos, é inútil buscá-lo fora". E para os infelizes que não têm o que gostariam de ter: "Antes de desejar fortemente uma coisa, convém examinar se quem a possui é feliz". Assim escreveu, no século XVII, François VI, ou o duque de La Rochefoucauld.
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Julio Daio Borges
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