DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
29/8/2001
Young, Foolish, and Easy
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 47 >>>
Apesar do elenco estrelado, Ralph Fiennes (O Paciente Inglês) e Liv Tyler (Beleza Roubada), Paixão Proibida (livre tradução para Onegin, romance homônimo de Puchkin) é um filme que corre riscos, como atestam as salas escondidas em que está sendo exibido. Tem uma das fotografias mais deslumbrantes da cinematografia atual (qualquer guia turístico falaria em "paisagem exuberante", se visse). Os dias são tremendamente brancos, refletindo uma existência opaca, desapaixonada, aborrecida, na perspectiva do protagonista. É possivelmente a maior interpretação de Fiennes até agora, que encarna o vazio e o enfado da alma de Onegin com muito rigor e a devida porção de "witty" (avant la lettre, pois está um século antes de Oscar Wilde). Liv Tyler é ainda a beldade de Bertolucci: fica bem entre olhares, silêncios e evasivas, não evoluiu significativamente, como atriz, desde 1996. Prova de fogo, para ambos, são as derradeiras cenas em que Onegin força um encontro com Tatyana, embora ela esteja (já) casada e as chances de recusa sejam altas. Qualquer revelação maior acabaria com todo o suspense e a emoção do longa, portanto, vale dizer apenas que seus talentos estão muito aquém do que os últimos minutos exigem. Mas tirando o epílogo, a história é contada de maneira não-óbvia e sugere que Martha Fiennes (irmã de Ralph) talvez seja a diretora mais indicada para montar uma nova adaptação de Anna Karenina (se é que alguém ainda lê Tolstoi). Outro aspecto notável de Paixão Proibida são os figurinos e a maquiagem, que surpreendem exatamente por não confundir século XVIII com século XIX (como é praxe). Toby Stephens faz um poeta provinciano (o adjetivo aqui é crucial), e lembra assombrosamente Schubert (ou, ao menos, os retratos que sobraram dele). Desafia Onegin para um duelo cujo desfecho é brutal, como há muito não se via em tela grande. A honra de quem arrisca a vida (admitindo a morte) não existe mais. Tampouco aquela da mulher, que assumindo compromissos matrimoniais, não se entrega (independentemente de quem seja o marido). Duas horas para se pensar, enfim.
>>> Onegin
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Julio Daio Borges
Editor
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