DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
17/12/2001
Dia de luz, festa de sol
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 61 >>>
Junto com “A onda que se ergueu no mar” (Novos mergulhos na Bossa Nova, de 2001), Ruy Castro retornou ao tema que lhe é mais caro com o relançamento de “Chega de Saudade” (A história e as histórias da Bossa Nova, de 1990). Este último é uma grata surpresa para aqueles que querem saber como João Gilberto inventou a original batida, como Tom Jobim encontrou Vinícius de Moraes, e como se formaram as turminhas e as turmonas de Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Nara Leão, Carlinhos Lyra, João Donato, Johnny Alf, Sylvinha Telles e mais uma lista interminável de cantores, compositores, instrumentistas e entusiastas da Bossa Nova. Ruy Castro, provavelmente o nosso mais competente biógrafo, volta aos primórdios com Dick Farney, Lúcio Alves, o Bando (os Garotos e os Namorados) da Lua – e a inesquecível Murray, a loja de discos que introduziu as novidades melódicas, harmônicas e vocais do Jazz. Busca João Gilberto em Juazeiro e narra toda a sua trajetória, seus abismos e suas quedas, até desenvolver aquele jeito peculiar de tocar e cantar (depois de peregrinações pelo Rio, por Porto Alegre, por Diamantina e pela Bahia, em incontáveis sessões no banheiro de pijama). Compõe um dos mais representativos painéis da noite carioca, nos anos 50, em que se formaram todos os principais artífices do movimento. Relata também, com detalhes, a batalha que a nova música teve de travar com a “velha guarda”, que não compreendia aquele jeito de quase se sussurrar ao microfone, adiantando e atrasando o fraseado, abandonando as lamentações aboleradas e exultando o sol, o amor e o mar. Ruy Castro dá a entender que a Bossa Nova acabou por causa de seus sucessivos “rachas” (Carlos Lyra saindo da Odeon e partindo para a Philips; Nara Leão abraçando o “populismo” e a “ideologia da pobreza”). Também pela introdução, a fórceps, do rock, do pop, e do ieieiê. Sem contar a debandada dos bossa-novistas para os Estados Unidos. O livro termina com a gravação de Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, de 1967. Foram acrescentados um epílogo (o que ficou das canções e das pessoas hoje), e uma discografia de mais de 600 CDs. “Chega de Saudade” é, portanto, mais que um retrato de uma época: é uma das explicações para o que fomos, e para o que nos tornamos, como país e como música. Lê-lo é uma doce inevitabilidade.
>>> "Chega de Saudade" - Ruy Castro - 461 págs. - Cia das Letras
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Julio Daio Borges
Editor
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