DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
28/1/2002
Três Irmãs
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 66 >>>
Há atualmente uma tendência a enfatizar a dramaturgia feita por mulheres, para mulheres e pelas mulheres. Sempre fortes, altivas e dominantes. Talvez puxadas pelas presenças, no palco e na telinha, de nomes como Fernanda Torres, Deborah Bloch, Patrícia Mello e Fernanda Young, outras atrizes, diretoras ou autoras tenham assumido a linha de frente das produções nacionais de impacto. É o caso, por exemplo, de “A Memória da Água”, atualmente em cartaz no Teatro Alfa. Apesar da direção de Felipe Hirsch, quem brilha para o público é Andrea Beltrão, Eliane Giardini, Ana Beatriz Nogueira e a autora, uma inglesa chamada Shelagh Stephenson. A partir da morte da mãe das três protagonistas (Clarice Niskier), explode uma disputa pelo espólio emocional da família estilhaça. Cada filha se coloca como a mais injustiçada, como a menos querida, como a mais sofredora. Uma de cada vez. A mais velha, Teresa (Eliane Giardini) é, naturalmente, a mais certinha, a mais prestativa, a mais presente – cobrando a ausência das outras duas, e lamentando-se pelo fardo carregado solitariamente, quando da convalescença da mãe. Maria (Andrea Beltrão) é a irmã do meio, inicialmente a mais ponderada, tentando equilibrar-se entre a severidade (da primogênita) e a inconseqüência (da caçula) – revela-se, no entanto, ela própria, uma mãe frustrada, tendo perdido dois filhos a que se considerava predestinada. Por último, Catarina (Ana Beatriz Nogueira), a mais nova, estacionada nos arroubos de juventude – trocando de aventuras e de amores como quem troca de roupa. Sim, o quadro é crítico. Mas é, justamente, dentro dessas situações-limite que a trama se desenvolve e o desafio está posto para o trio. Qualquer pessoa que tenha vivido um arranjo semelhante, em sua própria família, vai se identificar com um dos três tipos. A catarse é terapêutica e provoca risos. Destaque especial para as projeções na tela e para a música que entrecorta as cenas (estendendo o alcance da performance a recursos multimídia). Se ontem a pátria era de chuteiras, hoje é de sapatilhas.
>>> A Memória da Água
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Julio Daio Borges
Editor
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