DIGESTIVOS
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Terça-feira,
21/5/2002
Point of view point
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 82 >>>
Uma nota que ecoa até se perder. Um bocejo murmurante. Um acorde repetido aleatoriamente. Uma bateria que entra no contratempo. Um pássaro que canta e some. São elementos que compõem a música de Keigo Oyamada, mais conhecido como Cornelius. A dificuldade que o Ocidente tem em memorizar e pronunciar nomes que vem do Oriente, somada a toda aura de mistério que envolve uma personalidade esquiva e inventada (vide o ex-Prince), motivou o músico japonês a se embalar por um disco branco, com um único ponto azul. Mas o que um maluco das colagens musicais, vindo do país do sol nascente, pode representar para nós, brasileiros? Pois é, aí é que está: pode representar muito, na medida em que a influência brasílica permeia todo o seu CD. A começar pela segunda faixa: uma seqüência de palavras (que não dispensa o encarte), num “crescendo”, muito semelhante ao que se fez em poesia concreta, e muito mais semelhante ainda às experiências dos Mutantes durante a década de 60 (basta ter em mente que Tecnicolor, com as quebradas de “Bat Macumba” [ié-ié], ganhou o mundo muito recentemente). A viagem segue em meio a barulhos de água e à sugestão de uma sonda de submarino, quando novamente o Brasil emerge em “Tone Twilight Zone”. Será que são os grilos? Ou o violão minimalista? Ou até mesmo a vinheta que evoca o “cacarejar” de um tucano? Ninguém sabe; o certo é que estamos refletidos ali, em algum lugar. A ambiência tropical prossegue em “Bird Watching - At Inner Forest”. E, mais adiante, para quem não percebeu, Cornelius arrisca uma interpretação robotizada de “Brazil” (sim, “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso, vertida para o inglês). Lógico: as quebradas e as excentricidades do moço não facilitam nem um pouco a audição, mas “Point” (esse é o nome do CD) merece uma chance; nem que seja para se reconhecer ali, furtivamente, entre as faixas.
>>> Point - Cornelius - Trama
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Julio Daio Borges
Editor
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