DIGESTIVOS
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Terça-feira,
16/7/2002
Ardor, fervor e muito apreço
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 90 >>>
Quando se pensa no compositor de "Brasileirinho" (1949), a tendência é evocar épocas ancestrais (o início do século passado, por exemplo), ainda que Waldir Azevedo estivesse na área até há 22 anos (faleceu em 1980). Com a produção cuidadosa de Henrique Cazes, a Kuarup lança a coletânea "Sempre Waldir". A intenção do discípulo é, como sugere o encarte, mapear as influências a partir da música de Waldir Azevedo: Ademilde Fonseca e Chiquinho do Acordeon, em sua própria época (anos 50 e 60); Déo Rian e Zé da Velha, no choro dos anos 70; e, para fazer a amarração, Bruno Rian e o grupo Rabo de Lagartixa, nos dias de hoje. Como pode perceber até o ouvinte mais desavisado, e como também coloca Henrique Cazes, o que salta do cavaquinho do compositor são suas melodias ricas e cromáticas. Tudo bem, "Brasileirinho" se tornou circuito para os pilotos de instrumentos em alta velocidade, mas, tomando a obra em conjunto, fica evidente que a pressa e a agilidade no dedilhar nunca foram um fim (talvez nem mesmo um meio). Quem duvida que escute as interpretações cadenciadas e saborosas de Déo e Bruno Rian (em "Não há de ser nada", "Quitandinha" e até mesmo "Brasileirinho", que não poderia faltar); também o quase tango "Mágoas de cavaquinho", arrastado, juntando o mentor da coleção, Henrique Cazes, e o fabuloso Chiquinho do Acordeon; mais fabuloso ainda no baião "Delicado", em que está solo; até o cantar lamuriento (à la Aracy de Almeida) de Ademilde Fonseca (na clássica "Pedacinhos do Céu": [...]"E incluir neste chorinho / Entre beijos e carinhos / Pedacinhos lá do céu"[...]). Marcam igualmente presença os cavaquistas de primeira água: Márcio Almeida (em "Sentido") e Valmar Amorim (em "Cinema mudo" e "Você carinho e amor"). Este último inclusive apontado como o herdeiro mais próximo do mestre. No limite dos 45 minutos, o CD passa voando e - ao contrário dos arabescos e das firulas costumeiras da música instrumental - soa agradável e descomplicado, podendo ser tocado reiteradamente. Como o verdadeiro choro, aliás.
>>> Sempre Waldir - Seleção de Henrique Cazes - Kuarup
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Julio Daio Borges
Editor
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