DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
25/7/2002
La coupable
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 92 >>>
Com a ascensão e a consagração de Almodóvar, veio à tona o cinema sentimental, de gestos exagerados e de cores berrantes. Ganharam papéis de destaque, as mulheres e os homossexuais - foram praticamente suprimidos os homens. Com a falência do macho, as atrizes conquistaram a primazia em roteiros e salários - os atores se tornaram meros coadjuvantes. A história se repete em "Oito Mulheres", de François Ozon, uma homenagem às divas do cinema, onde praticamente não há homens. (Nesse clube, menino não entra.) Um elenco com tão acentuada "polaridade" sexual só poderia se sustentar se, a cada estrela, fosse atribuída uma personalidade forte e marcante. Foi o que ele fez (o diretor). Catherine Deneuve, por exemplo, é um arremedo de Marilyn Monroe; Virginie Ledoyen, da Sabrina vivida por Audrey Hepburn - a assim vai, octeto afora. O argumento (um policial), portanto, não segue adiante e não tem importância, num contexto dessa natureza. Cada fêmea dá o seu show, cantando, dançando, atuando - e é só. Os cinéfilos, por essa razão, se divertem muito mais que o próprio público, reconhecendo falas, cenas e figurinos. O que, por si, não explica esse "sucesso todo" na França. Ainda mais depois de "Pacto dos Lobos" (2001) e "Amélie Poulain" (2001). (Quem entende os franceses?) Ninguém venha dizer que foi por conta da publicidade no metrô. De qualquer jeito, é um desperdício de beldades: dado o formato, nenhuma consegue ser muito bem aproveitada. Sobressai Isabelle Huppert, vivendo uma solteirona ranheta e voluntariosa. Também Emmanuelle Beart, na via oposta: silenciando e falando só quando recebe ordem para tanto. Dentre as menos aproveitadas, reina infelizmente Fanny Ardant. É provável que não dure nas bilheterias do Brasil, que perdeu há muito da sua inclinação francofônica.
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Julio Daio Borges
Editor
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