DIGESTIVOS
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Terça-feira,
20/8/2002
Surrender
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 95 >>>
Never know how much I love you. Never know how much I care. When you put your arms around me, I get the fever that's so hard to bear. You give me fever. When you kiss me. Fever, when you hold me tight. Fever. In the morning. Fever, all through the night... Todo mundo tem a sua favorita do Rei; não do "Rei Roberto Carlos", não "desse" tipo de realeza - mas do Rei Elvis Aaron Presley. John Lennon dizia que há duas maneiras de alguém encerrar a sua carreira no show business: ou indo para Las Vegas; ou indo para o inferno, que é para onde - segundo ele - Elvis foi. Dizia também que, apesar desse destino faustiano, os Beatles, desde o início, só queriam conhecer e ser maiores que Elvis. Para quem sabe da reputação que o conjunto desfruta no universo pop, dá para se ter uma idéia da importância de Elvis Presley. Claro, hoje o mito não tem mais nenhum poder transformador, como teve, reduzindo-se ao efeito decorativo de um cinzeiro, de um selo ou de uma folhinha de borracharia. Elvis perdeu toda a humanidade para transformar-se em ícone; e os ícones do século XX são melhores empalhados (mortos) do que vivos. Suas músicas também: adquiriram a incômoda familiaridade de um "Parabéns a você", impedindo qualquer avaliação técnica mais isenta. Talvez sobreviva o cantor "folk" dos anos 50, que, aos 18, depois de estacionar seu caminhão no pátio da gravadora Sun Records, pagou para cantar duas faixas: "My happiness" e "That's all right", dedicando-as à sua mãe. Nunca mais saiu. Emblemáticos também os filmes dos anos 60, no melhor estilo "Sessão da Tarde" (ainda existe?), em que Elvis, já deificado, encarna, em seus melhores momentos, o "american hero". E, nos anos 70, as últimas performances, em que, gordo e suando em bicas, entrega-se mansamente ao sacrifício (não morreu no altar, como oferenda, mas quase). Hoje a pretensa ressurreição, no mundo publicitário, não é mais que o velho abuso da imagem que moveu montanhas; o reavivar tímido da velha chama. A revolução já passou; enquanto a alma penada vaga entre Graceland e os bonecos de cera. [Everybody's got the fever. That is something you all know. Fever isn't such a new thing. Fever started long ago...]
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Julio Daio Borges
Editor
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