DIGESTIVOS
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Terça-feira,
27/8/2002
Naquela hora impossível
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 96 >>>
Quem leu sobre Sérgio Mendes e seus conjuntos em duas biografias básicas sobre a Bossa Nova, a de Ruy Castro ("Chega de Saudade") e a de Nelson Motta ("Noites Tropicais"), deve ser ficado com água na boca só de imaginar como deve ter sido a música que se forjou naquele momento. Isso porque a discografia do pianista brasileiro que se mandou para os Estados Unidos praticamente não saiu em CD. Pelo menos, não no seu país de origem (até onde se sabe). Contra todas as evidências, contudo, um milagre aconteceu: já se pode encontrar, sem muito alarde é claro, o não menos que histórico "Você Ainda Não Ouviu Nada!", de 1964, com arranjos de Tom Jobim, Moacir Santos e do próprio Sérgio Mendes, acompanhado pelo Bossa Rio (Tião Neto e Edison Machado, dentre outros notáveis). Naquele momento se inaugurava o que depois veio a se chamar de "samba-jazz". Um álbum então vaticinado, não à toa, pelo autor de "Chega de Saudade": "Não sou profeta, mas creio que este disco abra novos caminhos no panorama de nossa música." Na contracapa, mais Tom Jobim sobre Sérgio Mendes: "Além de ser um intuitivo, é um estudioso. Coisa rara, pois, geralmente, os intuitivos ficam só intuitivos e os estudiosos seguem estudiosos." Não se sabe, porém, se pela exaustão com que suas versões foram executadas, as faixas menos surpreendentes hoje são aquelas compostas pelo maestro do Jardim Botânico: "Ela É Carioca", "Amor em Paz", "Desafinado", "Corcovado" e "Garota de Ipanema". O encantamento, talvez pela novidade, surge muito mais forte em "Coisa nº 2" e "Nanã [Coisa nº5]" (ambas de Moacir Santos), "Primitivo" e "Nôa... Nôa..." (ambas de Sérgio Mendes), e até "Neurótico" (de um certo J.T. Meirelles). Digamos que os "standards" de Tom e Vinicius intimidavam os executantes (ainda mais com a presença de um deles em estúdio), enquanto que as demais peças eram um convite à experimentação e ao improviso (até por algumas terem sido pensadas pelo líder do conjunto). De qualquer modo, apesar das preferências pessoais (sempre discutíveis), fica o pioneirismo e o apelo (indiscutível) desse "Você Ainda Não Ouviu Nada!". [Até porque, antes dele, você não ouviu nada mesmo...]
>>> Você Ainda Não Ouviu Nada! - Sérgio Mendes & Bossa Rio - Dubas/Universal
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Julio Daio Borges
Editor
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