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Quinta-feira,
29/8/2002
Cinema de crueldade
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 97 >>>
Em Carta Capital (que completa um ano de periodicidade semanal: "Parabéns, Carta Capital!"), Ana Paula Sousa assina uma excelente reportagem sobre a "Cosmética da Fome". Corruptela da "Estética da Fome" de Glauber Rocha, serve para classificar a cinematográfica exaltação da periferia, dos morros da favela - ultimamente vista em tela grande. Ana Paula chama, além da inventora da expressão (a pesquisadora Ivana Bentes), gente do mais alto gabarito para opinar: Eduardo Coutinho e Carlos Riechenbach. O assunto todo logicamente surge por conta do lançamento de "Cidade de Deus", em circuito nacional esta semana. Longa assinado por Fernando Meirelles, vem dividindo a crítica por conta de ser, ao mesmo tempo, estilização e denúncia. Graças a ele, muitos outros, no mesmo gênero, são invocados: "O Invasor" (de Beto Brant), "Uma Onda no Ar" (de Helvécio Ratton, recentemente exibido no Festival de Gramado), "Carandiru" (preparado por Hector Babenco) e até "Pulp Fiction" (de Quentin Tarantino). A querela não é nova: os artistas querem conscientizar a sociedade; a sociedade só se deixa atingir por produtos de massa; os artistas embalam com pele de cordeiro o lobo - e "nessa", a coisa pode não colar. De um lado, os que acusam Meirelles de banalizar a violência e a realidade do tráfico; de outro, os que vêm bradando em coro: "gênio!", "divisor de águas!", "marco!" e louvores similares. "Cidade de Deus" vai ser o filme obrigatório de 2002, com relação ao qual todo mundo vai ter de se posicionar. É melhor preparar então o colete à prova de balas, pois o tiroteio ideológico vai começar.
>>> Cidade de Deus
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Julio Daio Borges
Editor
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