DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
5/9/2002
O canário azul
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 98 >>>
Lêdo Ivo brilhou no "Umas Palavras" de Bia Corrêa do Lago. Foi certamente um dos melhores episódios desse programa que vai ao ar no canal Futura. Esteve tagarelando sobre a sua biografia; intercalando chistes e gargalhadas hilárias. Falou no entanto só sobre coisas sérias. Seriíssimas. Apesar do tom bem-humorado, vê com muita tristeza o ocaso da crítica literária brasileira, que, tirando Wilson Martins, no seu entender não mais existe. Lêdo Ivo acredita que é impossível se formar uma nova geração de escritores sem que haja juízo crítico. Como se guiar num mundo onde foram abolidas as noções de valor? Outra coisa: acha a crônica uma prática indecorosa na idade adulta; do alto de sua sabedoria, abandonou-a ainda aos 30 anos. Desde então vem publicando ensaios. Mas ficou conhecido mesmo por causa dos seus poemas. "Ode e elegia, poesia" (1945) lançou-o nacionalmente graças ao beneplácito de tipos que se extinguiram, como Álvaro Lins. Considera o Rio de Janeiro uma ilusão de ótica; e as grandes cidades, cemitérios de sonhos. Viu vocações nascerem e serem assassinadas pela metrópole que a todos devora. Tem uma teoria impagável: o autor nada mais é que o personagem criado pela obra. Como corolário, proclama: "Sou o desconhecido de mim mesmo". O homem cria e é criado novamente por aquilo que deixa para a posteridade. Divide os poetas entre "malditos" e "mimados", embora haja também mimados-malditos e malditos-mimados. Poucas vezes a televisão consegue ser tão inteligente. A entrevista voa; os blocos parecem flanar. Bia Corrêa do Lago comprova semanalmente que é possível, sim, cutucar a mesmice, oferecendo uma alternativa de nível.
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Julio Daio Borges
Editor
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