DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
2/9/2002
Miragem
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 97 >>>
Cacto. O nome é espinhoso; a capa, de um vermelho berrante. A recomendação, muito obsequiosa, de um certo Tarso. Tarso de Melo, é o editor; junto com Eduardo Sterzi. Parecem homens de boa vontade. As controvérsias porém afloram logo: a apresentação anuncia uma entrevista com Augusto de Campos, uma avaliação crítica sobre a sua obra, etc.; pois, segundo se lê, trata-se de "um dos maiores poetas do Brasil" (mas e o Haroldo?). Vamos às páginas. De fato, abre Augusto: "faça / o que / faça // o que / quer / que // quei / ram / que // faça / não / faça // faça / o que / quer". Fazer o quê? Próximo. Um que valha à pena. Bilíngüe não. Heine, para nos salvar: "Oh, que dama fácil, a felicidade! / Mal se acosta num lugar, ela já sai... / Afaga teu cabelo, cheia de vaidade, / Beija-te às pressas, bate as asas e se vai. // Dona Infelicidade, ao contrário, / Te prende ao coração a ferro e corda / Para ir embora, diz não ter horário, / Senta-se contigo à cama e borda.". Mais um ótimo comentário do tradutor (Marcelo Backes). Bem, melhorou. Ou não: brincadeiras com a forma; palavrões; jogos de palavras. Opa, o Tasso de novo. Ecos de Ferreira Gullar (que abandonou esse negócio de concretismo há muitos anos). Vários nomes, várias línguas - difícil se concentrar em algum(a). "Mosaico", "fotografia", "caligrafia" - sem novidades no front. Tem de haver pelo menos mais um. O poeta não pode ser mero encaixador de palavras. Voltam as ruas (Rodrigo Petronio): "- E aí tru, rolô a fita? / - Só. Cola na goma e a gente racha. / - Cê dá um cavalo? / - Na boa. / - Ixe, mó güela". Dante em tradução de Eduardo Sterzi. Também Joyce. Mais um "Fim do Poema" (será que essas coisas nunca acabam?). Notas de pé de página. Tradução, de novo (reinventada, de novo). Encerra com um "Sinal de Menos". No deserto, o cacto costuma ter água dentro. Nem sempre.
>>> Cacto | Tarso de Melo | Eduardo Sterzi
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Julio Daio Borges
Editor
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