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Quinta-feira,
26/9/2002
Big Stick
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 101 >>>
A metáfora americana. Parece que vem por aí uma bateria de filmes sobre a situação em que os Estados Unidos, ou os norte-americanos, se encontram. De acordo com a nossa contabilidade, a coisa começou com "Quarto do Pânico" (2002) e sinalizou para uma seqüência com esse "Sinais" (2002). O roteiro é quase o mesmo: no primeiro, mãe e filha se trancam num bunker, quando acuadas por uma gangue de ladrões; no segundo, pai, tio e filhos se enfurnam numa casa de campo, quando a ameaça extraterrestre lhes vem bater à porta. Hollywood provavelmente não acredita que quem tenha visto um veja o outro (a semelhança é tamanha que chega a ser irritante). O primeiro crítico a sugerir uma imagem figurada do país invadido pelo terrorismo foi Luiz Carlos Merten, no Caderno2. Se na sinopse parecia uma opinião exagerada, em tela grande, não; o discurso da era "W. Bush" parece estar todo lá. Inclusive no cast, selecionado, de superstars (Jodie Foster em "Quarto do Pânico" e Mel Gibson em "Sinais"). Vale lembrar que há um ano, mais ou menos, o presidente dos Estados Unidos pediu por filmes que ressaltassem a bravura, a fibra e a coragem de seu povo. Foi atendido ou, pelo menos, é o que pensamos ao assistir a tão despropositada invasão do planeta (numa época em que o dólar dispara, as eleições vêm a galope e a economia desanda). Mais fácil acreditar em "Senhor do Anéis" (2001) e até em "Harry Potter" (2001) do que em "little green men", saídos direto de um videogame ou seriado retrô. Além de esmigalhar a parca reputação de que desfrutava Mel Gibson ("Máquina Mortífera" [1987], "Coração Valente" [1995], "O Preço de Um Resgate" [1996]), "Sinais" consumiu por tabela os anseios do irmão de River Phoenix, Joaquin, que até havia enganado bem como imperador romano em "Gladiador" [2000], mas que agora encarna um tio aparvalhado e medroso. Os truques para "emocionar" o espectador são os mais baixos: mulher atropelada, partida no meio, sussurrando suas "last words"; criança-com-bronquite (em "Quarto do Pânico" era moça-com-diabete) inspirando gás alienígena e ressuscitando depois; e, por último, o fiel cão de guarda que, de repente, muda de humor e, ao avançar, é morto pela meninada à base de estocadas. Pensando bem, além de baixos, os recursos são de mau gosto. Como é possível então que alguém compare esse M. Night Shyamalan com o mestre do suspense, Alfred Hitchcock, um dos sujeitos mais elegantes e refinados do cinema? Se uma época se mede também por sua propaganda política subliminar, estamos mal, muito mal.
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Julio Daio Borges
Editor
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