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Quinta-feira,
3/10/2002
Esperando Godot
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 102 >>>
Precisamos apenas de alguns minutos para perceber que estávamos saudosos do minimalismo de Gus Van Sant ("Encontrando Forrester" [2000], "Gênio Indomável" [1997], "Garotos de Programa" [1991], "Drugstore Cowboy" [1989]). Claro que depois de meia hora a simplificação ostensiva do diretor cansa, mas aí já fomos fisgados. "Gerry" (2002), em cartaz na 26ª Mostra BR de Cinema, apesar do enredo excepcional, é basicamente uma experiência estética. Muita gente vai reclamar, pois é comum sentir-se vítima de avassaladores blockbusters ou refém de grandes cineastas e seus experimentos. A segunda categoria nos remete imediatamente a David Lynch e seu "Mulholland Drive" (2001), e as lembranças não são exatamente as melhores. Desta vez, as cobaias (além da platéia) são Matt Damon e Casey (irmão de Ben) Affleck. Os dois atores são co-autores do roteiro e sua performance sinceramente nos convence de prováveis interferências. São dois amigos vagando pelos desertos de Nevada e da Califórnia, atrás de alguma coisa ("the spot"), e que depois de muitas andanças acabam fatalmente se perdendo. É aí que o longa começa de fato: quando a dupla segue em ondas de desespero crescente e a capacidade do realizador de contar histórias efetivamente se projeta. Afinal, há uma porção de aventuras (e desventuras) semelhantes; e não só no areal, mas também na neve, em terrenos pedregosos e principalmente como conseqüência de acidentes. Nem precisa dizer que Gerry e seu homônimo vão ficando sem comida e sem água, congelando no frio e ardendo no calor. Existe também um princípio de sadismo em Gus Van Sant que, enquanto registra as agruras das personagens em condições sub-humanas, fotografa como possivelmente ninguém antes as paisagens em suas variantes de cor e luminosidade. Num exercício à la Monet, troca as flores pela decomposição de restos humanos. A luta em "Gerry" é, portanto, entre a beleza e a desesperança.
>>> Gerry | Jornal da Mostra
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Julio Daio Borges
Editor
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