DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
18/10/2002
Livre como um táxi
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 104 >>>
Ainda que esteja "up & running" ("alive & kicking"), a internet vive numa eterna crise de identidade, sem ter descoberto qual sua função. O que parece se afirmar como nunca, nos últimos tempos, é a tendência à pichação. (Sim, a mesma que leva as pessoas a rabiscarem seus nomes nos muros.) As analogias estão aí para quem quiser pegar. Desde os fóruns de sites sérios (ou de veículos ditos sérios) invadidos por toda a sorte de "cibervândalos", anônimos ou desocupados por profissão, até os próprios blogs que, em sua maioria, vivem da crítica parasitária, difamatória ou destrutiva por esporte. Isso não significa, de maneira alguma, que eles estejam errados. Em meios onde a democracia se mostra ampla e irrestrita, o caos e a anarquia tendem a imperar - até que chegue alguém e imponha regras (ou então delimite seu território, construa muros [o que, na internet, é pouco provável]). Nélson Rodrigues gostava de repetir que, durante o século XX, deu-se a "ascensão do idiota". Essa figura secundária, de utilidade muito duvidosa, que normalmente não tinha voz, - de repente - ganhou espaço. Nélson, que morreu em 1980, não poderia imaginar que a internet se converteria no palanque preferido dos "idiotas fundamentais". A ponto de gente séria (ou supostamente séria), com nome e reputação a zelar, preferir a comodidade de um "pseudônimo", a máscara e até os modos típicos do idiota, para se manifestar com um mínimo de liberdade, alcançando - às avessas - reconhecimento e mesmo notoriedade. Conclusão: além de conquistar o mundo, pelo argumento da "opressão numérica" (Nélson, outra vez), o "idiota fundamental" se converte em padrão de comportamento, a ponto de "não-idiotas", para serem aceitos, terem necessariamente de imitá-lo. É a máxima de Hunter S. Thompson, o pai do jornalismo gonzo: "Quando as coisas ficam bizarras, os bizarros viram profissionais". Nessa brincadeira, contudo, a internet vai perdendo credibilidade e os verdadeiramente sérios (ou "não-idiotas") vão pulando fora.
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Julio Daio Borges
Editor
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