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Quinta-feira,
26/12/2002
Televisão em 2002
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 114 >>>
Depois de mais de 50 anos, o Brasil parece não ter ainda encontrado uma utilidade para a televisão. Em 2002, não foi diferente. Passamos o ano sob a constante ameaça dos reality shows, que no primeiro semestre haviam perdido o fôlego, mas que no segundo retornaram com força total. A inteligência na televisão parece mesmo eternamente restrita a algumas ilhas. A alguns programas das emissoras não abertamente comerciais. Como o "Umas Palavras", de Bia Corrêa do Lado. Ou como o irregular "Roda Vida", da TV Cultura. O que ocorre, infelizmente, é que os inteligentes desistiram de salvar o veículo da desgraça à qual está condenado. Os exemplos de resistência estóica são, além dos citados, o persistente "Manhattan Connection" (agora com Lúcia Guimarães e Arnaldo Jabor) e, digam o que disserem, o "Saia Justa", comandado por Mônica Waldvogel. Procuram ambos um equilíbrio entre o histrionismo (na tevê, necessário) e uma mínima seriedade (também necessária, mas considerada dispensável em 90% dos casos). Conclusão: a tevê a cabo, apesar de todas os prejuízos causados, ainda é a tábua de salvação à qual o espectador tem de se agarrar. É lá que estão alguns dos melhores filmes, algumas das melhores séries, o pouco humor que não descamba para o besteirol e os documentários (tratados como "chatos", mas ilustrativos de fato). Não existe cenário possível para a televisão em 2003, porque as intenções de seus executivos e diretores oscilam mais que os fluxos de capital na bolsa de valores, em época de flutuação do dólar. Sem considerar que, mesmo economicamente, o maior modelo de tevê no Brasil, a TV Globo, cambaleia a ponto de se fazer vassala da politicagem, em busca de ajuda ($). Lamentavelmente, as alternativas (de massa) à Vênus Platinada são ainda mais escabrosas. Não é preciso citar nomes. Enfim. Que em 2003 se tenha piedade dos telespectadores desamparados.
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Julio Daio Borges
Editor
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