DIGESTIVOS
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Terça-feira,
7/1/2003
Mater Dolorosa
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 115 >>>
Se o lobby baiano não fosse tão forte, e se o mineiro não fosse o típico come-quieto, poderíamos ter sabido mais sobre a música de Minas Gerais. É o que se atesta pela audição de "Pietà", novo álbum de Milton Nascimento. Afinal, tivemos uma geração inteira, todo um Clube da Esquina, que poderia ter se estabelecido - tal qual a Máfia do Dendê. Ou até melhor. Enfim. Em "Pietà", ei-los novamente, em sua melhor forma, tocando e compondo com Milton. Lô Borges empresta o som de seu violão, e também seu talento de melodista, a "Quem sabe isso quer dizer amor", que conta ainda com a letra de outro Borges, o Márcio, e com o solo de Samuel Rosa. Márcio também assina "Voa bicho" ao lado de ainda outro Borges, o terceiro, Telo. Deste último, são igualmente as músicas "Tristesse" e "Meninos de Araçuaí" (em referência ao coro que participa do álbum). E Fernando Brant, logicamente, destila sua lírica já na faixa de abertura, "A feminina voz do cantor", bem como em "Beleza e canção". Nem Beto Guedes escapa; assombra "Pietà" no cantar nasalado de Simone Guimarães. Contudo, o revival à mineira, embora aconteça, não é o mote do disco. O mote são as mulheres. As relações de Milton com o cantar feminino, a homenagem que presta à sua mãe Lília e a evocação do espírito de Elis Regina (sua musa para sempre). Foi o bardo de Minas quem convenceu Maria Rita Mariano, a herdeira do legado da Pimentinha, a cantar. Ela estréia na já mencionada "Tristesse", e o timbre, para dizer o mínimo, é assustadoramente semelhante. Completando a trinca de intérpretes com quem Milton divide o fôlego, está Marina Machado, em "Casa aberta" e "Imagem e semelhança". Tão capaz quanto Simone e Maria Rita. (Para uma comparação mais precisa, sugere-se "Vozes do vento", a última do disco.) Tanto quanto em "Tambores de Minas", a impressão que se tem é de que Milton Nascimento está cansado de cantar. Prefere dirigir e generosamente ceder espaço a novos nomes. Dos grandes da MPB, é o mais aberto nesse sentido. Seus músicos, além de tocar, têm a chance de registrar suas composições no álbum. As presenças de Eumir Deodato, Pat Metheny e Herbie Hancock em "Pietà" dão a medida exata da importância do compositor no exterior. Já no Brasil, o monopólio da Bahia, e um certo dandismo de Santo Amaro da Purificação, atrapalhou um pouco.
>>> Pietà - Milton Nascimento - Warner Music
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Julio Daio Borges
Editor
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