DIGESTIVOS
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Terça-feira,
14/1/2003
Take me higher
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 116 >>>
O rock morreu? O rock ainda existe? Se há uma banda que ainda pode responder a essas indagações, com conhecimento de causa, é o U2. Os irlandeses, que se consagraram no final da década de 80, sobreviveram aos anos 90 e, malgrado as preferências dos fãs, mantiveram-se férteis na aurora do novo milênio. Tamanha longevidade, no pop, e com a mesma formação, é praticamente inexistente. Algumas das lições do U2, no último decênio, estão em "The Best of 1990-2000", lançado nos estertores de 2002. Além de ter garantido sobrevida a um gênero moribundo, o rock'n'roll, o U2 apontou caminhos e foi vanguardista mesmo estando no mainstream, na crista da onda, desde, pelo menos, 1988, com "Rattle and Hum". A revolução, propriamente dita, começou no álbum seguinte a esse, "Achtung Baby" (1991), para o qual boa parte da sua audiência torceu o nariz. Com ele, Bono Vox e seus asseclas antecipariam as tendências eletrônicas, que contaminariam todos os gêneros, em dez ou mais anos. Desse disco fundamental, o "The Best" reproduz "Even Better Than The Real Thing", "Mysterious Ways", "One" e "Until The End Of The World". A essa seqüência de hits (haveria ainda outras), seguir-se-ia uma turnê audiovisual, com tecnologia de ponta e concepção ousada, a "Zoo TV" (1992). Nela, o U2 se renderia ao primado da imagem, propagando frases desconexas, cunhando slogans absurdos ("Watch more TV"), tomando atitudes disparatadas (vide as ligações para a Casa Branca) e recebendo personalidades controversas (como Salman Rushdie). Da experiência vertiginosa desse tempo, nasceria "Zooropa" (1993), composto "na estrada", em aproximações ainda mais incisivas com a disco music, conforme indicam "Lemon", "Numb" e "Stay" (também presentes no "The Best"). Mas essa estética teria de ser levada até o fim, o que culminaria com "Pop" (1997) - cujas faixas já apareciam propriamente embaladas para as pistas, convertendo Larry Mullen, o baterista, num autômato. "Discothèque", "Staring at the Sun" e "Gone" marcam, portanto, o canto de cisne de uma fase de muita inventividade, muita diversidade e também de muitos excessos. Basta ouvir as "sobras de estúdio", do referido "The Best", para saber porque o flerte com o som eletrônico tinha mesmo de acabar. Nesse sentido, "All That You Can't Leave Behind" (2000) despontou como um alívio - e o U2 se reconciliou com o público ávido apenas por guitarra, baixo e bateria. Enfim. Apesar do "Get Back", apesar do retorno às raízes, sempre que se pensar os anos 90, certamente se pensará no U2 - e na a trilha sonora que embalou o mundo.
>>> The Best of 1990-2000 | U2 | Todos os Lados do U2
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Julio Daio Borges
Editor
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