DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
28/2/2003
A terra do nunca
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 123 >>>
Steven Spielberg não é bobo nem nada. "Prenda-me se for capaz" ("Catch me if you can", 2002), com dois estandartes do "american way", Tom "Forrest Gump" Hanks e Leonardo "Titanic" Di Caprio, poderia espantar aquela parcela de público mais crítica e desconfiada - mas terminou arrebanhando-a igualmente. É inegável a habilidade do diretor de "E.T." para soltar pacotes de entretenimento de tempos em tempos. Afinal, quantos hoje esperam "muito mais" de uma sessão de cinema? Poucos ou quase ninguém. Di Caprio é, desta vez, Frank Abagnale Jr., o típico anti-herói enrustido no espectador médio: "tudo" e "nada" ao mesmo tempo. Começa sua carreira de golpista ainda na escola, quando finge lecionar francês para os colegas. O pai (um decadente Christopher Walken) sorri condescendente e acha que o filho "leva jeito". Aparentemente, justificado pelo divórcio de seus genitores, Junior foge de casa e vai aplicar golpes de "gente grande" (no filme mostrados como se fossem de brincadeira): falsifica contracheques da Pan Am, voa de graça pela companhia, forja um currículo de medicina, supervisiona uma junta médica, fabrica um diploma de advogado em Harvard e, finalmente, passando-se por luterano e assistente de procurador, arranja uma "reputação" para casar-se e regenerar-se. Enquanto isso, no seu encalço, Tom Hanks (Carl Hanratty), o agente do FBI, que está sempre a poucos milímetros de apanhá-lo (seus encontros e desencontros endossam o gênero "comédia"). No fim, quem vencerá? O hábil transgressor que lesa o Tio Sam em milhões de dólares ou o persistente homem da lei que assume o caso como uma missão de vida? Para coroar a saga, o letreiro revela que se trata de uma história real - e os Estados Unidos reafirmam sua "generosa" capacidade em reabilitar grandes vilões de todos os tempos. Claro, há exageros nas peripécias do rapaz, mas Spielberg não nega o seu infantilismo jamais - embutindo a "psique" de uma criança travessa num bandidaço que deve ter contribuído para arruinar, ao menos, a Pan American. Resta à platéia, mergulhar nas estrepolias de Di Caprio, no bom-mocismo de Tom Hanks e na caracterização inebriante dos anos 60 e 70. Vale, nem que seja, pelo "inconsciente coletivo" reconstituído (especialidade dos norte-americanos já há algumas décadas).
>>> Catch me if you can
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Julio Daio Borges
Editor
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