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Segunda-feira,
7/4/2003
Cara de Feliz
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 128 >>>
Se a MPB se diluiu no culto a uma meia dúzia de personalidades, ou no apelo suspeitíssimo ao popularesco, a música instrumental brasileira vem despontando airosa para ouvidos inteligentes. É o caso do pianista, arranjador e compositor Marcos Nimrichter, que acaba de lançar seu primeiro CD pela Niterói Discos e que estréia nesta semana no Mistura Fina. Marcos, para quem não conhece, já percorreu o abecedário acompanhando, ao piano, os figurões da MPB: de Chico Buarque a Zé Ketti; de Djavan a Jorge Ben Jor; de Cássia Eller a Martinho da Vila. Mas o seu reino é certamente o da elaboração pormenorizada, com pitadas de música erudita e forte coloração jazzística. Não surpreende que Marcos tenha participado de "Ouro Negro" (2002), o tributo a Moacir Santos, o CD duplo que já saiu do forno antológico. Nem que tenha sido convidado para integrar o projeto "Jobim Sinfônico", ao lado da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, como solista. Nada mal para um músico brasileiro de pouco mais de 30 anos. No CD, simplesmente "Marcos Nimrichter", descobrimos a faceta criadora desse descendente de alemães, cariocas e mineiros. Acompanhado por uma turma da pesada (no melhor sentido), aproxima-se ora da tradição do jazz latino (evocando Astor Piazzolla e Eliane Elias), ora do fraseado minimalista (à maneira das "Children's Songs" de Chick Corea), ora dos ritmos brasileiros "tout court" (como no "Frevo do Frei Frívolo"). O curioso é misturar essa salada de influências da música instrumental norte-americana, e regional brasileira, com grupos como o Quinteto Villa-Lobos e o Quarteto Guerra-Peixe. Mais um mérito de Nimrichter, que soube combinar todo o seu background de experiências num primeiro álbum feliz. É, aliás, graças a essa ousadia que podemos encontrar o clarinete de Paulo Sérgio Santos embalado pela bateria de Carlos Bala; a guitarra de Alexandre Carvalho se equilibrando entre uma viola, um violoncelo e dois violinos; a flauta de Toninho Carrasqueira dialogando com o contrabaixo elétrico de Marcelo Mariano. São essas e outras paisagens que compõem o panorama da melhor música brasileira moderna – e não o que normalmente se vê por aí.
>>> Marcos Nimrichter - Niterói Discos
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Julio Daio Borges
Editor
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