DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
25/4/2003
Sugerido para adultos?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 131 >>>
John Constantine. O nome é de ator de Hollywood. Mas a inspiração, dizem, veio de um cantor de rock: Sting. Trata-se do detetive mais “cool” das histórias em quadrinhos, no final dos anos 80, início dos 90, que a editora Brainstore relança no Brasil. A personagem foi criação de Alan Moore, o pai do Monstro do Pântano, e teve uma aparição mais sistemática (leia-se: virou revista) graças a Jamie Delano (argumento) e John Ridgway (arte). Pela associação entre Vertigo, DC Comics e Brainstore, temos as oito primeiras histórias de “Hellblazer” (o título dedicado a John Constantine) encadernadas e disponíveis nas bancas daqui, sob a alcunha “Pecados Originais”. Todas datam de 1987 e uma introdução de Delano (em 1992) procura situá-las no tempo. A grande questão que fica é: – Há interesse suficiente para os não-iniciados ou John Constantine fica restrito à legião de adeptos do autor de “Watchmen”? Muitos dramas já ficaram velhos: um dos amigos de Constantine, por exemplo, sofre de aids e de preconceito. Em 2003, não faz mais muito sentido (ao menos, não como fazia antes da agonia de Cazuza [1990], digamos). Em outro episódio, nosso herói pragueja contra os “conservadores” e Margaret Tatcher. Hoje, com Tony Blair no poder, não consta que o tatcherismo seja uma ameaça – até porque já foi assimilado pelo “novo trabalhismo” (a “esperança” naquele então). O maior problema, contudo, são os leitores, que cresceram. O existencialista que vaga solitário, desafiando demônios, esnobando mulheres e subvertendo as regras não faz mais a nossa cabeça. Primeiro, porque os demônios são reais. Segundo, porque as mulheres não são mais “aquele enigma”. Terceiro, porque descobrimos que as regras não são um mal em si. John Constantine percorre as catacumbas das nossas memórias – e é só. Nenhum espanto. Nenhuma surpresa. Embora haja arte no traço de Ridgway; embora haja inteligência nos diálogos de Delano. Mas como o último mesmo colocou, talvez as “imperfeições” saltem aos olhos agora com mais facilidade – e Constantine precise de uma reciclagem, de uma atualização, de um banho de terceiro milênio. A iniciativa, portanto, é louvável, mas as nossas horas, atualmente, mais densas do que antes.
>>> Hellblazer: Pecados Originais - Jaime Delano & John Ridgway - Brainstore Editora
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Julio Daio Borges
Editor
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