DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
2/5/2003
Une exposition à moi
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 132 >>>
Dentro da coleção que já nos legou um “Rembrandt” por Jean Genet, também com tradução de Ferreira Gullar, vem à luz agora “Van Gogh – O suicida da sociedade” (1947), de Antonin Artaud, pela editora José Olympio. Seguindo a mesma linha impressionista do primeiro da série, esse segundo volume rompe ainda mais com a análise crítica tradicional e apresenta um Artaud defendendo uma de suas bandeiras favoritas: a loucura. Defendendo, não: tentando provar que Van Gogh não era louco, mas, sim, extremamente lúcido – tendo sido sufocado pela sociedade que não queria aceitar suas “verdades insuportáveis”. O clamor soa familiar? Soa. O velho discurso dos oprimidos-opressores, dos perseguidos-perseguidores, dos torturados-torturadores. Com a diferença que Artaud viveu na primeira metade do século XX, e só foi servir de inspiração, posteriormente, para alguns conhecidos slogans. Enfim. É notável a implicância do diretor teatral francês com o doutor Gachet, o médico mais próximo do artista holandês. A ele, e à psiquiatria, Artaud atribui o suicídio de Van Gogh. Inocenta Théo (o irmão, das cartas), sugerindo que este apenas seguia ordens médicas (equivocadas). Mas, ao mesmo tempo (para o bem da contradição), o teatrólogo considera que a morte, no caso do criador dos “Girassóis” (1888), veio em boa hora. Como se Van Gogh houvesse esgotado suas possibilidades pictóricas e dissesse adeus ao mundo no momento exato. E, claro, Artaud acha que não houve nada de mais em assar a própria mão e em mutilar-se, arrancando a própria orelha. Bem... Acabamos concluindo que esses aspectos da vida íntima do pintor não são importantes, e que o autor do livro, malgrado seus malabarismos formais, acaba provando o óbvio: muito pouco se pode acrescentar, em matéria de interpretação, a uma obra de gênio. Portanto, “O suicida da sociedade” talvez fique como nota de pé de página em toda fortuna crítica acerca do legado de Vincent van Gogh. Qualquer quadro do mestre vale mais do que as milhares de páginas que Antonin Artaud poderia ter escrito sobre ele. É a impressão que fica ao final da leitura.
>>> Van Gogh – O suicida da sociedade - Antonin Artaud - 104 págs.
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Julio Daio Borges
Editor
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