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Quarta-feira,
28/5/2003
Ela desatinou
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 135 >>>
A Cult, que, em 2003, vem seguindo a linha “tudo ou nada” (Beatles, Literatura gay, Hitler e Carandiru), resolveu este mês dedicar uma capa a Chico Buarque. Na verdade, um dossiê que desapontou. Basta pensar: o que há de mais relevante na obra do poeta: seus versos, seu teatro ou seus romances? Qualquer brasileiro sabe a resposta, mas a Cult (infelizmente) inovou e deu maior atenção a aspectos periféricos. Primeiro, num texto de Heitor Ferraz Mello, estendendo-se sobre os livros “Fazenda modelo” (1974), “Estorvo” (1991) e “Benjamim” (1995) – que, por mais que sejam “Chico Buarque de Hollanda”, não se prestam, assim, a tantas análises. Em seguida, com uma entrevista de Adélia Bezerra de Meneses, debruçou-se (felizmente) sobre sua poética – mas de maneira indireta, e superficialmente, afinal marcada pela informalidade do tom de conversa. Por fim, através de Fernando Marques, reservando alguma atenção às suas peças: “Roda viva” (1967), “Calabar” (1973), “Gota d’água” (1975) e “Ópera do malandro” (1978) – que, vá lá, têm a sua importância, mas que foram sobrevalorizadas a partir do momento em que Zé Celso assumiu a primeira e o tom puramente contestatório (às vezes, plenamente justificado) se apoderou das demais. Contudo, não resta a menor dúvida: o compositor de MPB deveria ter prevalecido no quadro geral – embora o próprio prefira, atualmente, refugiar-se na prosa literária. Trocando em miúdos: a Cult ficou devendo. Talvez porque o mal de Chico Buarque seja o unanimismo que paira sobre sua obra, cujo viés interpretativo ficou tão calcado no momento histórico que é praticamente impossível “redescobri-lo” a esta altura. Teríamos de jogar todas as referências fora e começar tudo de novo. Talvez, inclusive, não seja uma má idéia – contanto que um autor maior do que o atual surja. Lógico: nem tudo é frustração na Cult: a edição vale pela crônica de Eric Nepomuceno (enfim, um jornalista), velho amigo e confidente.
>>> Cult
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Julio Daio Borges
Editor
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