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Terça-feira,
23/9/2003
O eterno retorno
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 144 >>>
Woody Allen sofre de uma coisa que Freud chamou de “compulsão à repetição”. É inegável, embora seus defensores queriam camuflar o fato de que, ultimamente, ele venha realizando o mesmo filme repetidas vezes. Temem que haja nisso um “mal”. E não há, desde que a criatividade ainda consiga acompanhá-lo. Como no caso desse “Dirigindo no Escuro” (“Hollywood Ending”, 2002). Segue o mesmo humor pastelão dos últimos tempos mas remete àquele Woody Allen psicanalítico, discutindo relações, administrando conflitos de personalidade, equilibrando-se entre o seu “eu” e o mundo exterior. Rimos, logicamente, das mesmas piadas: da ex-esposa que se deslumbrou com o dinheiro do novo amante; da nova companheira que é 100% corpo e nada de cérebro; do diretor de cinema judeu, com ambição pela Europa e muito medo da morte. É um “concurso de simpatias” e não dá para convencer alguém a ver o filme racionalmente: ou se sente uma identificação plena com esse personagem universal, ou então nada feito. Plasticamente, a fórmula também é a mesma: Woody contracenando com uma musa atual (Téa Leoni; anteriormente foi Helen Hunt); Nova York, aqui e ali, mais bonita do que nunca (para ele, o September 11th passou em branco); e uma coloração outonal, em tons pastéis, remetendo a outra época (mesmo que a ação transcorra no tempo presente). Sua produção, que adquiriu um ritmo anual, não mais surpreende. É apenas a tentativa de se manter vivo, viril, “na ativa”. Não vai sair mais nenhum clássico dessa série. Será simplesmente Woody Allen se debatendo contra a marcha inexorável do tempo. Um drama portanto? Ele preferiu convertê-lo em comédia, e provocar gargalhadas, rindo de suas misérias – com, aliás, sempre fez.
>>> Dirigindo no Escuro
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Julio Daio Borges
Editor
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