DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
23/10/2003
Ainda somos os mesmos?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 146 >>>
Maria Rita tem tripla filiação. É filha de Elis Regina e Cesar Camargo Mariano, e é filha de uma época em que, para aparecer, tem de ver seu nome incessantemente bombardeado pela mídia. Deve ser cansativo para quem tem mais que um sobrenome (para ostentar), e mais que uma personalidade feminina (para exibir: posando na Playboy, namorando Big Brothers, infestando a seção Gente das revistas). Felizmente, para uma audiência já enfadada depois de tantos embustes, Maria Rita sabe cantar; e legou, ao menos, um álbum digno de nota, nestes tempos de cantoras abundantes e inexpressivas. É lógico que ela não canta igual à mãe. (Na idade dela, nem a própria mãe cantava.) Tirando a assombrosa semelhança de timbres de voz (para quem duvidava da tal herança genética), as comparações são, em geral, muito perigosas. Arriscando algumas (nem todas novas): Maria Rita canta para fora e encerra, finalmente, o primado da rainha dos sussurros, Marisa Monte; Maria Rita tem suingue e, além de acertar as entradas (coisa que quase ninguém acerta), conduz o instrumental sem se deixar conduzir por ele; e Maria Rita é tão segura de sua interpretação que apresenta novos compositores (faz parte do talento reconhecer o talento alheio). Ou seja: ela tem os principais atributos para construir uma carreira consistente, saindo vitoriosa da sombra de Elis Regina. Acontece que, nesse ínterim, pode ser devorada pelo mass media (como hoje ocorre com 99,99% dos que atingem o mainstream). Para a sua sorte, porém, desde o retumbante lançamento, Maria Rita não se revelou tão popular assim (vale dizer que, em mais de 30 anos, o conceito de popular mudou muito; MPB é hoje coisa para as elites...). Enfim, num inferno cheio de boas intenções, há gente querendo reconhecê-la como uma espécie de redentora. Não é. Infelizmente, ninguém mais vai separar, para nós, o joio do trigo. Só nós mesmos.
>>> Maria Rita - Warner Music
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Julio Daio Borges
Editor
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