DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
1/12/2003
Curitiba: Odores e Perfumes
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 151 >>>
Coincidência ou não, os dois maiores contistas brasileiros vivos só pensam “naquilo”. Primeiro foi Rubem Fonseca, com o irregular “Diário de um fescenino” (2003). Agora é a vez de Dalton Trevisan, com “Capitu sou eu” (2003), livro que lança depois de “Pico na Veia” (2002). O título poderia sugerir uma reinterpretação do enigma mais famoso de Machado de Assis: Capitu traiu ou não traiu? Poderia ainda evocar Gustave Flaubert: “Bovary, c’est moi”. Mas não é nada disso. Falaram em “novela”, mas também não é. Acontece que estamos tão acostumados a ler Dalton Trevisan em microcontos (como se fosse poesia) que qualquer coisa, com mais de uma página, já passa por novela ou por romance. “Capitu sou eu”, no caso, é o nome da história que abre o volume: narra o envolvimento, mais que recorrente, entre professora e aluno. Ela, versada em literatura e português, ele, um estudante relapso, atrevido e mal-educado, até conquistar o coração da preceptora. Não tem nada de mais e, em se tratando de Dalton Trevisan, não faz muita diferença, porque o enredo não é o mais importante. O fato de simplesmente se encontrar frases “equilibradas”, fluindo sem qualquer excesso ou exagero, já é um achado, que deveria compensar qualquer aspecto secundário. Há, ainda assim, narrações divertidas, e com muito espírito, como “Sapato Branco Bico Fino”, sobre um conquistador por quem as mulheres fizeram tudo e mais um pouco; como “O Patrão”, sobre uma doméstica que não resiste aos avanços de seu senhor, e acaba com o próprio noivado; e “De Olhinho Fechado”, combinada com “Sou Inocente”, sobre o polêmico abuso sexual de crianças e sobre, na via oposta, ninfomania. Dalton Trevisan ganhou o recente Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira e talvez esteja mesmo à frente de seu tempo. Nunca lança nada com mais de 100 páginas e, portanto, não pode se dizer vitimado pela “falta de tempo” que grassa na vida moderna.
>>> Capitu sou eu - Dalton Trevisan - 111 págs. - Record
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Julio Daio Borges
Editor
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