DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
6/2/2004
Entre as gentes
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 161 >>>
A editora Capivara, de Bia e Pedro Corrêa do Lago, completou dois anos de edições bem cuidadas e de alguma polêmica (involuntária; por conta de um colecionador que não concordou com a catalogação, feita por eles, das esculturas do Aleijadinho). “Até agora, só editamos os livros que adoramos”, admitiu Bia, orgulhosa, apesar dos percalços. E realmente, como não se apaixonar, por exemplo, pela simpática edição de “Uma parisiense no Brasil” (1883), de Adèle Toussaint-Samson, que passou pouco mais de uma década no Rio de Janeiro de Dom Pedro II? O pequeno volume, de aproximadamente 200 páginas (quase de bolso), é recheado com fotos e ilustrações dos cenários em que a autora narra seus episódios. E pensar que o livro permanecia fora de catálogo, no Brasil e na França; sendo que dele eram conhecidos apenas alguns poucos exemplares remanescentes (um obviamente abrigado nas estantes da Biblioteca Nacional). Na Capivara, Adèle Toussaint-Samson ganhou nova tradução, de Maria Lucia Machado, e até um prefácio biográfico, assinado por Maria Ines Turazzi. Nele, são relatadas as dificuldades da autora em publicar suas memórias do Rio de Janeiro na França do século XIX. Foi recusada sistematicamente por jornais e editoras até que o Imperador brasileiro, em visita a Paris, tornou-se “assunto” e permitiu que Adèle juntasse suas reminiscências a ele (e à família real) relacionadas. A ida de Madame Toussaint ao Rio, ao contrário do que possa parecer, não se relaciona a nenhum plano mirabolante, mas, sim, à crença de que era possível fazer fortuna no Novo Mundo, como acreditavam tantos europeus. Seu marido, Jules, felizmente, caiu nas graças das princesas (Leopoldina e Isabel) e, tornando-se o professor de dança “oficial” da realeza, garantiu à família uma existência mais do que confortável. Suas impressões, sobre o País que a recebeu, são, em geral, descompromissadas e lisonjeiras. Como qualquer pessoa minimamente civilizada de seu tempo, Adèle abominou a escravidão; e como uma mulher à frente das “nativas” brasileiras, introduziu hábitos que se consagrariam muito depois (como o de sair de casa desacompanhada). “Uma parisiense no Brasil” prevalece como documento histórico, mas também pode ser encarado como um poço de pequenos achados.
>>> Uma parisiense no Brasil - Adèle Toussaint-Samson - 190 págs. - Capivara
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Julio Daio Borges
Editor
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