DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
16/2/2004
Samba de uma nota só
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 162 >>>
Depois da onça morta, aparecem os caçadores. Hoje é impossível saber quem teve a bendita idéia de misturar “standards” da Bossa Nova com música eletrônica. Conhecemos as derivações: a coletânea “Bossa Nova Lounge”; a febre do “Chill Out” na Europa; o “Só tinha de ser com você” de Fernanda Porto; Bebel Gilberto e o produtor Suba; etc. (a lista vai desde “japoneses” [restaurantes] metidos a sofisticados até os ambientes da Casa Cor). Nessa salada, o Bossacucanova talvez tenha o direito de clamar pela paternidade. Afinal, vem explorando comercialmente a mistura desde 1997; além de contar com um legítimo descendente da geração de Pais Fundadores: Marcio Menescal, filho de Roberto Menescal (junto com Carlos Lyra, o professor de “todo mundo” que, nos anos 50 e 60, cantou “o amor, o sorriso e a flor”). Pois o Bossacucanova, por incrível que pareça, fez sua primeira apresentação em São Paulo (o ex-túmulo do samba). Foi em janeiro, no Bourbon Street (que, há pouco mais de uma semana, havia recebido Jane Monheit [a próxima Diana Krall?]). O lugar ferveu, com o próprio Menescal em pessoa e com os sócios-fundadores da Trama (que igualmente clamam por uma parcela do legado musical do Brasil). Wilson Simoninha, inclusive, subiu ao palco para entoar “Essa moça tá diferente” (de Chico Buarque; que não tem filhos na disputa, mas que tem sido insistentemente associado a Marcelo Camelo, do Los Hermanos [até por FMs ditas sérias]). Enfim: é provável que a questão da MPB (ou do que quer que seja, em termos de rótulo), no País, acabe em teste de DNA. Não por causa de pais desnaturados (que não reconhecem seus rebentos), mas por causa dos filhos – que querem ter mais direitos, sobre uma realização do espírito, do que outros (meros mortais). Do show, fica a impressão de se querer retomar uma certa “linha evolutiva” perdida; algo que, infelizmente, não se consegue – apenas – através da reprodução de clássicos, “reestilizados” segundo um novo modismo. A força da dinastia pode funcionar, mas deve ir além da genética (lamarckiana) de “habilidades adquiridas”. E as novas gerações, mais do que emular as velhas, precisam mostrar serviço.
>>> Bossacucanova | Bourbon Street
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Julio Daio Borges
Editor
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