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Segunda-feira,
22/3/2004
Aquarela do Brasil
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 167 >>>
Na música brasileira, é tempo de pianistas. Arranjadores, instrumentistas e compositores estão se arriscando em empreitadas solo. Com a independência dos pequenos selos, abriu-se espaço para discos dos chamados “músicos dos músicos”. Assim como existe o “writers’ writer” (o “escritor dos escritores”), existe também o “músico dos músicos” – aquele sujeito que desperta a admiração não apenas do público, mas também de seus pares. É o caso de Fernando Moura, que já tocou com todo mundo: desde Chuck Berry até Marisa Monte; desde George Martin até Elba Ramalho; desde Paulo Moura (que está no disco e com quem compõe) até Marcos Suzano (parceiro constante, cujo CD ficou sob sua produção). O álbum de Fernando Moura intitula-se “Do Bom e do Melhor” e é um lançamento da Rob Digital. Para mostrar que não fica só na intenção, Moura recheou seu trabalho de ilustres convidados: além dos citados Moura (Paulo) e Suzano, estão presentes Armandinho, Henrique e Beto Cases, entre outros. O verde-amarelo da capa e do encarte, mais o “feijão maravilha” em primeiro plano, indicam que a intenção, musicalmente falando, é abraçar toda a complexidade de gêneros e ritmos do Brasil. A diferença está na abordagem que Fernando Moura faz da tecnologia: crê que a convergência entre ela e a música será, no futuro, uma coisa inevitável – e já aposta nessa certeza. Mas que ninguém fique preocupado: não vai sofrer com as interferências excessivas do “drum’n’bass”; com as intervenções (nem sempre bem-vindas) dos DJs; e com o aparato de efeitos sonoros (que, muitas vezes, só faz poluir a audição). Fernando Moura é suficientemente refinado para não aderir abertamente a modismos; que o diga, por exemplo, a introspectiva e densa faixa “Alegria do Amor”, de um piano límpido e cristalino. Destaque também para a releitura de “Chovendo na Roseira” (Tom Jobim), com direito a introdução e vocalização (em japonês) de Miyazawa Kazufumi. “Oração ao Tempo” (outra versão criativa sua para uma canção de Caetano Veloso) foi tema da peça “Mais Uma Vez Amor”, com Marcos Palmeira e Luana Piovani. Fernando Moura, como todo artista que quer sobreviver no País, se fez multimídia – mas o CD é uma prova de que não precisou vender sua alma.
>>> Do Bom e do Melhor - Fernando Moura - Rob Digital
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Julio Daio Borges
Editor
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