DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
30/4/2004
Fábrica
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 173 >>>
Renato Russo tinha dias em que estava atacado e tinha dias em que estava mais atacado. É o que atesta o novo “As Quatro Estações Ao Vivo”, do Legião Urbana. Os donos do espólio já haviam lançado “Como é que se diz eu te amo” (2001), da turnê subseqüente (do álbum “V”), e quem conhecia um não deve esperar muitas novidades do outro. A justificativa fica por conta de uma ou outra versão “ao vivo”, como a de “Angra dos Reis” (antes inédita), por exemplo. Mas é pouco para quem assistiu aos porcos chafurdarem na lama de “discos-solo”, póstumos, permeados de entrevistas, e de “homenagens” tortas, como a prestada por Jerry Adriani e por um certo grupo (de cujo nome nem se tomou conhecimento) que mais soa como um “genérico” do Legião Urbana. Renato Russo foi um ídolo juvenil, com seus defeitos e qualidades, atualmente sob o jugo de grandes gravadoras que não se fartam de raspar o fundo de seu baú. Mas Renato Russo, de novo, ficou sem lugar. Quem o ouvia, nos anos 80 e 90, cresceu – e hoje compra seus discos mais por condescendência do que por qualquer outra coisa. E quem não o ouvia, naqueles anos, não vai fazê-lo depois (leia-se agora), porque muito do apelo da “Geração Coca-Cola” se foi. Trocando em miúdos, Renato Russo não é ainda um compositor atemporal. Talvez um dia seja. Tentaram, e continuam tentando, fazer isso com Cazuza (aqueles que notaram a nova versão de “Exagerado”, com Frejat e Zélia Duncan, sabem do que estamos falando), mas aparentemente não conseguiram. Uma das razões talvez seja o fato de terem morrido precocemente; outra, a eterna incapacidade de se converter rock em qualquer outro gênero que não seja “rock”. Muitos também tentaram, com orquestras e artifícios similares, mas o resultado sempre foi – irremediavelmente – pobre. Como, aliás, é o rock. OK (para usar uma gíria “roqueira”), as letras de Manfredini e Agenor se salvam – foram hinos de quem não tinha mais nada para mastigar. Renato Russo tinha achaques de literatice, como quando lançou a premonitória “Eu Sei” (1987), aos 20 e poucos anos. Era o indício de que as platéias já estavam fartas de imagens. Estas “Quatro Estações” são, contudo, nostalgia em último volume. Quem está atrás de um guru, que vá cantar “Ideologia”, de Cazuza.
>>> As Quatro Estações Ao Vivo - Legião Urbana - EMI
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Julio Daio Borges
Editor
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