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Segunda-feira,
9/8/2004
Samba da benção
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 187 >>>
É curta a saga dos meninos-prodígio. Quando deixam de ser meninos, deixam de ser prodígio. Ou então se encerram numa cápsula do espaço-tempo, para explodir futuramente em Michael Jacksons (ou aberrações similares). No Brasil, Yamandú Costa, embora tenha se consagrado como prodígio do violão, parece que, felizmente, se cansou das firulas todas. Uniu-se a Paulo Moura e gravou um CD em duo pela Biscoito Fino. É inevitável a comparação com Raphael Rabello, que teve a mesma idéia antes – no início dos anos 90. Aliás, é quase sempre fatal a sombra do violonista, chamado de Mozart do Choro, que morreu bastante cedo (aos trinta e poucos anos), por complicações relativas à contaminação pelo vírus da Aids. Rabello tinha um espírito mundano: não se encerrou no cânone e gravou com todo tipo de pessoa – de Ney Matogrosso a Cazuza, passando por ases como Arthur Moreira Lima e Deo Rian. E Paulo Moura. Yamandú, provavelmente antecipando o confronto com o fantasma, abre o disco com uma composição sua: “El Negro del Blanco” – que, approposito, intitula a obra. E é nas faixas de inspiração hispânica (ou hispano-americana) que ele se sai melhor. De andamento mais lento, quando não “frita” as cordas com seus dedos velozes. “Duerme negrito” e “La paloma” são provas cabais, embora a última destoe um pouco (injunção súbita do penúltimo filme de Pedro Almodóvar?). O “mainstream” parece, igualmente, dar as cartas em “De camino a la vereda”, ultimamente consagrada pelo grupo do Buena Vista Social Club (filme, livro, CD, etc.). “Gracias a la vida” fecha o espaço aberto à “latinidad” num arranjo bastante original – que nem de longe lembra Elis Regina (um feito quase improvável). É possível mencionar ainda a aceleradíssima “Taquito militar” (que virou quase um frevo) e “Decaríssimo” (um Piazzola muito pouco denso e soturno). Yamandú gravou um CD anterior onde entoava até “Sampa” e foi uma das maiores revelações do Prêmio Visa (referendado em verso e prosa). Talvez com Paulo Moura aprenda a não perseguir tanto a consagração – hoje um objetivo quase todo oposto à música.
>>> El Negro del Blanco - Paulo Moura & Yamandú Costa - Biscoito Fino
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Julio Daio Borges
Editor
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