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Segunda-feira,
13/9/2004
La muerte del Angel
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 192 >>>
A programação de concertos geralmente é um tanto quanto linear para evitar sobressaltos do público espectador. Então quando alguns músicos reclamam, da monotonia dos programas, na maior parte das vezes, é a isso que se referem: à escassa criatividade em amarrar compositores aparentemente díspares, mas com sutis laços de afinidade. Pois quem sente falta de uma certa ousadia na composição do repertório deveria ter assistido à passagem de Gidon Kremer, e de sua Kremerata Música, pelo Theatro Municipal de São Paulo, na temporada 2004 do Mozarteum Brasileiro. O violinista, célebre, soube amarrar como muito pouca gente, por exemplo, Bach e Arvo Pärt (um moderno, difícil e estridente). Muito já se falou, e vai continuar se falando, sobre a perenidade da obra do “João Sebastião Ribeiro” – que não se prendeu e inclusive extrapolou o barroco. Ainda assim, foi uma surpresa ver Kremer transformando a consagrada “Chacona” em música contemporânea (aguda, lacrimosa, dissonante). Depois, Andrii Pushkarov, o vibrafonista da Kremerata, proporia leituras para além de originais, do mesmo Bach (no caso, de “Três Invenções”), à maneira de, por exemplo, Bill Evans e Oscar Peterson, os mestres pianistas... do jazz. Mas a segunda parte completaria o espanto que começou por Pärt, passou por Bach e terminou em Piazzolla (!). Por mais que estejamos tão vizinhos dos tangos e dos “tangueros”, talvez pela excessiva musicalidade de todos os cantos do Brasil, raramente podemos apreciar as criações do bandoneonista que, como Villa-Lobos, rodou o mundo. A platéia então se reconheceu no descendente sofisticado de Carlos Gardel e aplaudiu fortemente milongas e estudos diversos. Até o duo com Gerry Mulligan, “Night Club 1960”, foi relembrado. Por fim, mesmo tendo de esperar pelo lento escoar de automóveis, entre manobristas e estacionamentos, ninguém poderia reclamar de tédio musical nessa noite.
>>> Mozarteum Brasileiro
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Julio Daio Borges
Editor
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