DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
29/11/2004
Razão prática
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 203 >>>
Schiller, o dramaturgo alemão, vivia adoentado e numa miséria tão grande que não sabia se destinava seus parcos rendimentos à cozinha ou ao hospital. Foi em uma de suas crises que o príncipe da Dinamarca ficou sabendo de sua situação e, antes que Schiller fosse dado como morto, resolveu sustentá-lo por alguns anos. Em retribuição, o também pensador da estética alemã propôs uma troca de correspondência com o príncipe, onde iria rever o papel da arte depois do Iluminismo, da decadência da religião e das então novas teorias de Kant. O soberano dinamarquês topou, embora se confessasse ignorante em matéria de filosofia e talvez não um interlocutor à altura de Schiller, seu protégé agora. Quem nos conta esta e outras histórias é Ricardo Barbosa, doutor pela PUC-RJ e professor da Uerj, que foi até a Alemanha, até os Schillers Werke, para compor Schiller & a cultura estética, um pequeno e instigante livro de referência da Jorge Zahar. Schiller tardou meses para restabelecer contato com seu protetor, depois de ter feito o trato. Enviava cada carta e, em seguida, retrabalhava suas idéias e seus argumentos para republicá-los, finalmente, em Die Horen (As Horas), uma revista de que era editor. Ainda que tenham se estendido por mais tempo que o esperado, as missivas tomaram corpo e formaram, no fim, uma obra autônoma. Schiller, em dado momento, pede ao príncipe que lhe remeta, de volta, os originais das cartas, mas eles não estavam mais à disposição – e, até hoje, só restaram as cópias que o próprio Schiller tratou de providenciar depois de cada envio. O grande dramaturgo confessa que se sente à vontade para teorizar sobre arte – sendo um artista; e que acredita piamente na formação do homem através da sua sensibilidade e de uma educação do gosto (na estruturação de uma sociedade onde a espiritualidade e a política redefiniam seu lugar). E o príncipe tinha razão: as teorizações de Schiller são mesmo difíceis de acompanhar, mas uma vivência assim, tão interessante, não.
>>> Schiller & a cultura estética - Ricardo Barbosa - 72 págs. - Jorge Zahar
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Julio Daio Borges
Editor
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