DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
14/1/2005
Polonaises
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 210 >>>
O que sabemos sobre a Polônia? Muito pouco. Sabemos que o Papa veio de lá. Sabemos de sua anexação por parte da Alemanha, na Segunda Guerra. Sabemos o que Polanski nos contou. E sabemos, obviamente, de Chopin. Mas de teatro polonês, sabemos ainda menos. Se o folheto não nos dissesse, por exemplo, que Ionesco era polonês, não iríamos nos lembrar. Estamos falando da peça O Diário, de Witold Gombrowicz (alguém consegue pronunciar?), montada em São Paulo pela companhia do Teatro Dramático de Varsóvia. Mormente, uma realização da colônia polonesa no Brasil, com apoio da marca Lush, no Sesc Consolação. Uma iniciativa, portanto, louvável, para aplacar nossa ignorância em matéria de Polska (Polônia em polonês). Inacreditavelmente encenado em polonês (com legendas), o espetáculo aborda, como não poderia deixar de ser, o anti-semitismo e o nacionalismo na Polônia do século XX. Afinal, como quem estuda História sabe, a perseguição da parte de Hitler e do nazismo é apenas a ponta do iceberg numa trajetória de expurgos, de violação de direitos e de maus-tratos. Stefan é um jovem dividido entre o autoritarismo opressor do pai e os traços físicos (considerados indesejáveis) herdados da mãe. Entre alucinações de militarismo e do “gênio” polonês, apaixona-se por Jadwisia, que conquista com seu caráter dócil (judaico?) e que repudia com seu lado austero e áspero (polaco?). Além da atuação impressionantemente possessa e esquizofrênica de Krysztof Ogloza (Stefan) e Dominika Kluzniak (Jadwisia), destacam-se as performances de Krzysztof Bauman (o imponente pai de Stefan) e de Anna Deszowska (a chorosa mãe) – apesar de haver outros personagens em circulação, como um professor, alguns colegas, um organista e figurantes diversos. Tirando a presença de personalidades do consulado e da embaixada na estréia, nesta nossa capital, foram vistos renomados profissionais do meio, como o diretor Antunes Filho e a atriz Barbara Paz. Por fim, ainda continuamos com a referência das fortes imagens do Pianista, mas montagens como a do Diário vão acrescentando novos tons à nossa composição mental.
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Julio Daio Borges
Editor
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