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Segunda-feira,
17/1/2005
Giramundo
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 210 >>>
Assim como as modelos (e até dançarinas) que se iniciam na televisão têm de se apegar, mais dia menos dia, ao teatro e à dramaturgia, as cantoras da moda, também, têm de se apegar a alguma tradição na música brasileira – antes que a (sua) moda passe. Não que Fernanda Porto seja como essas figuras acéfalas que pululam no fim de tarde da tevê, mas soube perceber que seu reinado eletrônico tinha tempo limitado e que – se como artista quisesse durar – teria de recorrer às grandes linhas evolutivas. Nesse ponto, é emblemático o single executado freqüentemente nas rádios: “Roda Viva” – além de ser uma peça significativa de um dos baluartes da MPB e da tradição, conta – na versão de Fernanda Porto – com a participação do próprio compositor: Chico Buarque. E a simbologia continua no fato de a faixa ter batidas eletrônicas de condução – como se a musa das pistas e dos DJs de antes desse as mãos com o cânone de 1960 em diante (o único que restou). Pois o seu salto se apóia e o trampolim continua graças à presença do reconsiderado Cesar Camargo Mariano – no vácuo de Elis-remix e de Maria Rita-reloaded – em outras 4 ou 5 canções. Aliás, a Trama (gravadora de Fernanda) tem procurado se balizar, cada vez mais, nas últimas figuras fundadoras de antes e de durante a ditadura: além do clã Elis, Tom Zé (já há algum tempo) e Gal Costa (novidade). Para os figurões é mais uma aposta, porque eles estão tão perdidos ou mais do que os novatos: vide Chico Buarque na Folha, confessando que atualmente concorre consigo próprio (o Chico censurado e o Chico jovem). A música brasileira agora é uma reprodução difusa da imagem nítida que foi outrora. Parece sem programa. De qualquer maneira, Fernanda Porto tem essa plataforma para exercitar sua veia de compositora. E não se sai mal. Embora destaque ela mesma – como todo mundo hoje – as participações no álbum (além das já citadas: Will Calhoun e Doug Wimbish, do Living Colour), suas letras soam menos ingênuas e mais “memoráveis” do que as do primeiro trabalho. Ainda que se pautem em demasia no brainstorm e no coloquialismo formal, confirma seu movimento em direção às estátuas de mármore da nossa música popular. Que não se revelem, porém, estátuas de sal.
>>> Giramundo (ouça as faixas) - Fernanda Porto - Trama
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Julio Daio Borges
Editor
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