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Segunda-feira,
28/2/2005
A revolução antiindustrial
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 216 >>>
Existe um único consenso entre a imprensa de esquerda e a imprensa de direita: o consenso de que a imprensa vai mal. Todos reclamam de pensamento único, todos reclamam de interesses em jogo, todos reclamam de manipulação da informação. E todos, nesse ponto, têm razão. Engrossando o coro dos descontentes, está Bernardo Kucinski, autor do chomskiano Jornalismo na era virtual, professor da ECA e integrante do atual governo desde 2003. Apesar do título, que sugeria um auspicioso volume sobre jornalismo na internet, com referendo de Alberto Dines, a obra, publicada pela editora da Unesp, divide-se em três capítulos com pequenos ensaios cada, dois ou três deles apenas sobre a atividade jornalística na Web. Kucinski é um otimista, no sentido de que compara a sua formação em redação, ou melhor, o modus operandi de seus colegas de então, com os recursos tecnológicos de agora e conclui que não poderíamos estar melhor. Ao contrário de seus colegas de ideologia, combate fortemente a noção de “exclusão digital”, dizendo que seria o mesmo que excluir os analfabetos da invenção de Gutenberg (justamente, a imprensa). Sim, a internet não muda o mundo, porque exclui grande parte dele hoje (os sem-computador); mas, não, essa não é uma realidade permanente, na medida em que se investe no barateamento do computador pessoal e na dita “inclusão digital”. Esse é o pensamento de Kucinski; e, nesse ponto, está alinhado com o futuro. Já não está quando procura ressuscitar o que ele mesmo chama de “jornalismo romântico”; e não está, também, quando atribui à universidade um papel superdimensionado na formação ética do jovem foca. Afinal, o próprio Kucinski reconhece que fala para as paredes quando se dirige a profissionais na ativa (alunos de seus cursos de pós-graduação) e procura introduzir uma certa “razão ética”; e o mesmo autor da complexa expressão reconhece o corporativismo e a explosão das faculdades de jornalismo, que em nada contribuíram para a qualidade do produto final (o jornal). Compensam, ainda, suas conhecidas análises do atual jornalismo econômico (embora ele implique um pouco com a era neoliberal). No fim, os insights valem pela aparente falta de estrutura no pensamento nas quase 150 páginas de Jornalismo na era digital.
>>> Jornalismo na era virtual - Bernardo Kucinski - 143 págs. - Unesp
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Julio Daio Borges
Editor
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