DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
16/3/2005
E aí...
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 218 >>>
Talvez a saída para a literatura brasileira não esteja nos autores novos, ou nos novíssimos, e, sim, nos veteranos, que fizeram, provavelmente, uma estréia tardia em livro, mas que, indubitavelmente, dominam o ofício. Entre estes, está Livia Garcia-Roza. Livia é psicanalista do Rio de Janeiro e teve sua estréia em 1995. Como aquela leva de nomes que se lançou nos anos 90 do século XX, mas que se consolidou agora, nos anos 2000 do XXI, Livia tem sua habilidade plenamente desenvolvida numa antologia de contos que sai, neste momento, pela Companhia das Letras. Restou o cão (2005) também abriga peças recolhidas de outras editoras e de outras coletâneas, como Ediouro, Publifolha e Record, e como “Coleção 5 Minutinhos”, Boa Companhia e 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira. Restou o cão e outros contos, este novo volume, ainda mostra que uma edição de vários autores às vezes não é significativa para se avaliar um nome já consolidado, como o dela, e sim para chamar a atenção para a novidade, digamos, de uma geração relativamente inédita. Se Livia, de repente, poderia passar como mais uma participante dentro de um grupo numeroso, em Restou o cão, ela está inteira e, em todas as suas facetas, não poderia estar melhor. Seu último romance (A palavra que veio do Sul, Record, 2004) foi muito divulgado como uma obra do universo infantil, e ela, efetivamente, tem uma habilidade muito particular, evocando o realismo fantástico, para abordar o mundo das crianças. A contista Livia Garcia-Roza, porém, parece mais complexa que esse rótulo que a imprensa decidiu cegamente adotar. Garcia-Roza tem uma capacidade fora do comum para os diálogos – quase sempre o calcanhar de Aquiles do autor brasileiro. E Garcia-Roza, apesar de concisa, não sofre da síndrome de roteirista de cinema (de seus colegas contemporâneos): ela trabalha perfeitamente, no gênero conto, a transcendência e o elemento surpresa. Mais do que o cinema (um desejo irresistível para quase todos hoje), suas peças cabem justamente em cena aberta, num monólogo teatral ou similar (como ela mesma brinca num texto seu). É, enfim, gratificante, para o resenhista ou leitor, passar algumas horas com Restou o cão. É a prova de que, entre muitas confusões e enganos, a literatura brasileira contemporânea avança.
>>> Restou o cão - Livia Garcia-Roza - 109 págs. - Cia. das Letras
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Julio Daio Borges
Editor
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