DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
28/3/2005
Retrato em branco e preto
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 220 >>>
De Tom Jobim, tudo está perdoado. Por mais que seja executado, reexecutado e ainda, mais uma vez, executado, ele era – além do já sabido – um tremendo contador de histórias. É o que justifica, por exemplo, esse Antonio Carlos Jobim em Minas ao vivo: piano e voz, da Biscoito Fino. Pois todo mundo já está careca de saber que sua música é maravilhosa, e que ela pode ser cantada por quase qualquer pessoa de cor e salteado, de trás para frente, como “Parabéns a você” e similares. Assim, fora o fato de ouvir as pérolas eternas (“Desafinado”, “Samba de uma nota só”, “Chega de saudade”...), o CD está recheado de casos engraçados que eram – em show – também sua especialidade. Aquele jeito de falar baixo, emulando a modéstia do caipira, mas, ao mesmo tempo, tratando de feitos incomparáveis como a composição de suas canções e a recapitulação da gênese que permitiu a elas que se transformassem no que hoje são... para o mundo. E Tom Jobim é interessante mesmo quando troca os personagens de antigas histórias – como trocou daquela em que foi apresentado a Vinicius de Moraes. Na televisão já falou que quem os introduziu foi o maestro e arranjador Leo Peracchi; neste álbum, gravação de 1981 na verdade, ouvimos uma outra versão em que o mestre-de-cerimônias (o introdutor) é o crítico e historiador Lúcio Rangel. Enquanto esperamos a biografia definitiva de Ruy Castro para confirmar qual é qual, rimos dos lapsos do mestre – que quando errava e dava foras, ficava ainda mais engraçado e melhor. (O Tom Jobim pode. Os outros, não.) E para não dizer que a música, nesse lançamento, não é, mais uma vez, indispensável, aí estão as interpretações raras de “Ligia”, “Águas de março”, “Água de beber” e “Dindi” (ao todo são 18 faixas). Sem contar “Garota de Ipanema”, da qual ele não conseguia escapar. A turma pedia e pedia e pedia e ele, quando se irritava, exclamava: “Vocês sabiam que eu tenho mais de 400 músicas?”. E tinha razão.
>>> Antonio Carlos Jobim em Minas ao vivo: piano e voz - Biscoito Fino
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Julio Daio Borges
Editor
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