DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
23/5/2005
O senhor me empresta um livro?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 228 >>>
Graciliano Ramos, bicho do mato, criado no sertão, era um pessimista nato. Cultivado, na seca do Nordeste. Só dava moleza para beijar as mãos das damas a que era apresentado, já senhor, como nos conta a revista Argumento de meses atrás. Graciliano, chistes à parte, conheceu a verdadeira educação pela pedra, conforme já está dito em Infância e outros livros como Vidas Secas. Fora a biografia de Dênis de Moraes, que é uma das grandes fontes para esse mistério denominado Graciliano Ramos, agora o público infantil – antes não contemplado pela obra, evidentemente, adulta – pode contar com, justamente, A Infância de Graciliano Ramos (editora Callis), de Audálio Dantas. Trata-se de um relato breve, bastante ilustrado (comme il faut), sobre as migrações e privações de Graciliano e sua família, quando era menino e orbitava em torno do estado de Alagoas. Além das privações, mais ou menos conhecidas para quem teve contato, por exemplo, com a cachorra Baleia, ainda há, de mais interessante, uma reconstituição dos anos de formação do leitor Graciliano Ramos. Devorador-mirim de bibliotecas, contista precoce, mostrando sempre que vocação é coisa que se cultiva até no meio da seca, mesmo quando aparentemente falta a luz, o solo e a água da orientação. Foi, aliás, uma das boas almas que o menino Graciliano encontrou, Mário Venâncio, que profeticamente proclamou: “Você vai ser um grande escritor”. Foi. Um dos maiores do século XX, no Brasil. E célebre revisor na era de ouro do Correio da Manhã, onde cortava tudo de que não gostava e só depois mandava avisar. Ah, os copy desks... – tão ridicularizados por Nélson Rodrigues, mas quem não queria ser copidescado pelo autor de São Bernardo? A Infância de Graciliano Ramos não é um volume nem pretensioso nem brilhante, mas já serve para preparar o caminho rumo a esse mestre e inventor.
>>> A Infância de Graciliano Ramos - Audálio Dantas - 32 págs. - Callis
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Julio Daio Borges
Editor
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