DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
17/6/2005
Que a força esteja com você
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 231 >>>
Se a Veja dá 10 páginas, e os cadernos de cultura dos principais jornais dão capa, pode desconfiar. Se você vê outdoors espalhados pela cidade e inserções as mais variadas na TV e no rádio, não espere nada: é blockbuster na certa. E não deu outra: Cruzada é uma superprodução para arrebentar na estréia de fim de semana e, em seguida, se apagar na memória – até que o DVD nos alcance, como sempre invasivo, igual à fita nas salas. Queremos crer, na verdade, que as pessoas estão cansadas dessa engrenagem e nem reagem mais a um assunto tão desconectado da sua realidade como, sei lá,... as Cruzadas. Apesar de Bush. Ridley Scott, que até enganou bastante gente com o Gladiador (e dá-lhe reportagens extensivas, pagas, sobre o making-of), tentou requentar a conquista da Terra Prometida, pela Europa medieval e cristã, ao emular o recente Tróia (no que ele tem de pior). O desânimo, no elenco, é patente, e a história se arrasta, por causa de um roteiro que, além de previsível nos mínimos detalhes, não empolga nem o espectador mais desinformado. É um desperdício atrás do outro: de Liam Neeson, de Jeremy Irons e até da novata Eva Green – de quem Bertolucci havia tirado algum suco, mas que, sem a condução do mestre italiano, se revelou apenas mais uma beldade (ou nem tanto) sem expressão e com caras&bocas, decoradas, de modelo iniciante. Do protagonista, nem vamos falar (se era um mero coadjuvante no superpopuloso O Senhor dos Anéis, nunca poderia ter encarado um papel principal). A ambientação, o figurino e até os diálogos se situam naquela época indefinível que tanto pode ser o Egito dos faraós, a Grécia antiga, o Império Romano... quanto o reinado de Arthur, a França pré-Revolução e as monarquias falidas do século XIX – em cinema é tudo a mesma coisa. Sem contar as misturas com ficção científica pós-Spielberg & Lucas. Cruzada é, além de uma perda de tempo (e de dinheiro) evidente, um desfile repetitivo de clichês hollywoodianos. Tudo bem, a máquina nunca vai parar de funcionar – mas nós, pelo menos, não vamos mais nos deixar enganar.
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Julio Daio Borges
Editor
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